Por LUSA
A Frelimo, partido no poder em Moçambique, considerou hoje que a segurança está a voltar a Cabo Delgado, enquanto os principais partidos da oposição, Renamo e MDM, acusaram o Governo de fracasso no combate aos rebeldes.
A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, e Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, fizeram a avaliação da luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, norte do país, nos discursos de encerramento da nona sessão ordinária da Assembleia da República.
“Os avanços das Forças de Defesa e Segurança na província de Cabo Delgado são sinais inequívocos da intensificação de esforços no combate ao terrorismo”, afirmou o chefe da bancada da Frelimo, Sérgio Pantie.
Pantie disse que as forças governamentais estão empenhadas na perseguição e desmantelamento de grupos armados que protagonizam violência naquele ponto do país.
A ação conjunta das Forças de Defesa e Segurança, do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) — cujo efetivo está em retirada, por ter cumprido a sua missão — está a reduzir a insegurança, prosseguiu o líder da bancada parlamentar do partido no poder.
Sérgio Pantie pediu ao parlamento uma salva de palmas para a decisão da União Europeia (UE) de prolongar até 2026 a Missão de Treino da União Europeia em Moçambique (EUTM-MOZ) às forças especiais moçambicanas na luta contra grupos terroristas em Cabo Delgado.
Por seu lado, a bancada da Renamo acusou o Governo de negligência no combate à insurgência, sustentando que a ação de grupos armados continua a provocar mortes e destruição de bens.
A continuação da violência em Cabo Delgado “é resultado de negligência, com contornos de negócios”, disse o chefe da bancada do principal partido da oposição, Viana Magalhães.
Magalhães criticou o menosprezo com que as autoridades começaram por reagir aos primeiros ataques dos rebeldes, em outubro de 2017, assinalando que o Governo da Frelimo designou os grupos armados por malfeitores e só mais tarde admitiu que se trata “de terroristas”.
“O Governo foi recusando apoio em nome da soberania”, tendo aceitado a ajuda internacional mais tarde, com o agravamento da violência, frisou.
A bancada do MDM defendeu a necessidade de conhecimento das verdadeiras motivações da guerra em Cabo Delgado, apelando para que não seja descartada a possibilidade de diálogo com os grupos armados.
“Os serviços de inteligência devem ser orientados para conhecer as motivações desta guerra e a janela do diálogo deve ser aberta”, declarou Lutero Simango, chefe da bancada do terceiro maior partido.
Simango frisou que as causas do conflito em Cabo Delgado também devem ser removidas através de respostas no campo económico e social a favor das comunidades na província.
“Continuamos com a convicção de que o combate ao terrorismo deve ser associado a medidas económicas e sociais, para mitigar o sofrimento”, salientou.
Na quinta-feira, populares do distrito de Macomia, em Cabo Delgado, relataram à Lusa intensos tiroteios e medo nas matas do posto administrativo de Mucojo, a 40 quilómetros da sede daquele distrito, atacada há duas semanas.
A situação afeta sobretudo os camponeses das zonas de produção de Nambine e Namigure, a pouco mais de 10 quilómetros de Mucojo, que desde a invasão por cerca de uma centena de insurgentes à vila sede de Macomia têm acompanhado diariamente tiroteios naquelas matas.
O ataque de grupos insurgentes à vila de Macomia, um dos maiores dos últimos meses no norte de Moçambique, palco de uma insurgência armada, provocou de 10 a 14 de maio quase 1.500 deslocados, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), além de relatos da população sobre saque e pilhagem de lojas e outras ONG.
Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.