Por LUSA
O grupo parlamentar da coligação no Governo na Guiné-Bissau acusou o principal partido da oposição, o Madem-G15, de fabricar uma crise para dissolver a assembleia eleita há quatro meses.
“Notam-se as engenharias, mas podem ter a certeza de que nós estamos atentos ao que esta gente está a preparar”, afirmou hoje Mário Musante da Silva, primeiro secretário da bancada parlamentar da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI)- Terra Ranka. A coligação liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) reagiu hoje ao protesto do Masdem-G15 contra a organização das comemorações dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau, em 23 e 24 de setembro, nas matas do Boé. O grupo parlamentar da coligação entende que esta posição tem o “fim de forçar uma crise institucional com o objetivo de dissolver a assembleia”, eleita nas legislativas de 04 de junho, em que saiu vencedora a coligação do PAIGC com a União para a Mudança (UM), o Partido da Convergência Democrática (PCD), o Partido Social Democrata (PSD) e o Movimento Democrático Guineense (ODM). Aos cinco partidos da coligação juntaram-se mais tarde, através de um acordo de incidência parlamentar, o Partido da Renovação Social (PRS) e o Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG). O principal partido da oposição, e que esteve anteriormente no Governo, pediu ao Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que dissolva a assembleia, sob a ameaça de mobilizar o povo. Os eleitos da coligação no Governo entendem que o que o Madem-G15 quer é “obter a formação de outro Governo fora do processo democrático, como já ocorreu na legislatura passada”. O Madem justificou a posição alegando que o presidente da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, não cumpriu o regimento do Parlamento na organização das comemorações. “É uma crise fabricada”, insistiu o primeiro secretário da bancada parlamentar do PAI – Terra Ranka, que acredita que “o bom senso vai acabar por imperar”, pois “para resolver os problemas do país é necessário que haja paz”. Mário Musante da Silva salientou que o dia da independência da Guiné-Bissau, mais do que para “polémicas estéreis e crises institucionais artificiais, devia servir para celebrar um feito histórico inédito conseguido por Amílcar Cabral e pelos combatentes da liberdade”. Disse ainda que as comemorações, que decorreram a 23 e 24 de setembro no lugar simbólico do Boé, foram preparadas com o conhecimento e a participação de todos e que só na véspera do evento é que o Madem.G15 decidiu não ir. Notou ainda que a discussão dos parlamentares deve assentar nos temas e problemas de interesse do povo guineense. “E não condutas que não nos dignificam enquanto representantes legítimos do nosso povo”, acrescentou. As comemorações dos 50 anos da independência têm agitado a vida política guineense nos últimos dias, com um confronto entre o presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e o presidente da Assembleia Nacional Popular e do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), Domingos Simões Pereira. O presidente da República considerou as comemorações promovidas pela Assembleia como uma manifestação de um partido, numa referência ao PAIGC. Sissoco Embaló anunciou também a data das próximas eleições presidenciais para daqui a dois anos, a 24 de novembro, e afirmou que vai recandidatar-se, apresentando-se como vencedor. O presidente da Assembleia Nacional Popular e do PAIGC, Domingos Simões Pereira, considerou “desenquadradas” as declarações do chefe de Estado. “A referência feita pelo presidente da República, de se tratar da manifestação de um partido político e de manobras para enganar o povo, foi inadequada e inaceitável, da mesma forma que as considerações que se seguiram tanto em relação à data das eleições como ao facto de já haver um vencedor antecipado e à primeira volta, são informações mal enquadradas e que Assembleia Nacional Popular não aceita”, disse. O Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil também reagiu à polémica e exortou “firmemente os titulares de órgãos de soberania no sentido de se absterem de comportamentos suscetíveis de pôr em causa a paz, a estabilidade governativa e a vontade popular inequivocamente expressa nas urnas”.