POR LUSA
Os dois candidatos da Renamo nas principais autarquias da província de Maputo alertaram hoje para o risco de uma “paralisação geral” face à repressão policial às marchas de contestação às eleições, convocando um boicote às receitas fiscais.
“Os polícias devem parar de ajudar um ditador.
Não há motivos para o que está a acontecer.
Porque depois disto, o que pode acontecer é decretarmos uma greve geral para paralisar o país”, disse à comunicação social António Muchanga, candidato da Renamo nas eleições autárquicas no município da Matola, algumas horas após a Polícia da República de Moçambique (PRM) disparar gás lacrimogéneo contra milhares de pessoas que se manifestam em Maputo contra os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Os manifestantes participavam numa marcha convocada pelo cabeça-de-lista da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição) à autarquia de Maputo, Venâncio Mondlane, que reclama ter vencido aquela eleição, em 11 de outubro, e tentaram seguir, na avenida 24 de Julho, quando a confusão começou.
Em conferência de imprensa, a Polícia da República de Moçambique (PRM) justificou a sua resposta com a necessidade de manter a “ordem e tranquilidade públicas”, considerando que os manifestantes atiraram objetos contundentes e vandalizaram infraestruturas.
“A polícia alerta que não irá tolerar atos subversivos, com enfoque ao vandalismo, violência e desordem pública generalizadas e, sempre que for necessário e justificável, a polícia tomará todas as medidas coercitivas, sempre alicerçadas nos princípios de legalidade e proporcionalidade”, disse Orlando Modumane, porta-voz do Comando Geral da PRM.
Para António Muchanga, a atuação da polícia moçambicana pode empurrar a Renamo para uma nova “guerra”.
“Não nos empurrem para guerra (…) Dispararam ali contra nós, mas no final do dia voltam para casa nos nossos bairros.
Não queremos chegar a isso”, frisou Muchanga, também deputado da Renamo na Assembleia da República.
A marcha, que tinha como destino as instalações do Conselho Constitucional em Maputo, foi travada com o posicionamento de vários veículos blindados da polícia e depois pelo lançamento de gás lacrimogéneo, ao que os manifestantes responderam com o arremesso de pedras.
Venâncio Mondlane, candidato da Renamo na cidade de Maputo, que também contestou os resultados apresentados pela Comissão de Eleições na quinta-feira, nos quais Razaque Manhique foi anunciado como vencedor das eleições autárquicas na capital, com 58,78%, ameaçou, por seu turno, com “um boicote às receitas fiscais”
“Aquela decisão é um rascunho e é pior que papel higiénico.
Não vale absolutamente nada. Na cidade de Maputo, nós vamos fazer um boicote às receitas fiscais.
Não vamos pagar nada”, declarou à imprensa Venâncio Mondlane, enquanto liderava a marcha, momentos antes da confusão se instalar na avenida 24 de julho.
De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados do escrutínio ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial.
Os resultados apresentados pela CNE de Moçambique indicam uma vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, em 64 das 65 autarquias do país, enquanto o MDM, terceiro maior partido, ganhou apenas na Beira.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país no dia 11 de outubro, incluindo 12 novas autarquias, que pela primeira vez foram a votos.
Pelo menos 10 pessoas ficaram feridas e outras 70 foram detidas hoje durante marchas de protesto contra os resultados das sextas eleições autárquicas em diversos pontos de Moçambique, anunciou a polícia.
Partidos da oposição, sobretudo a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, têm promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada “megafraude” no escrutínio.