Por LUSA
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) anunciou hoje o adiamento do Conselho Nacional previsto para 07 e 08 de março, sem avançar nova data para a reunião que devia analisar a situação política do pais e do partido.
“Fica adiada, por razões ponderosas, para uma data a anunciar”, disse, numa declaração em Maputo, o porta-voz do Renamo, Marcial Macome.
Esta reunião era uma das exigências de vários membros e antigos guerrilheiros da Renamo, que nos últimos meses se manifestaram junto aos edifícios do partido em todo o país exigindo a saída de Ossufo Momade da liderança do partido, que até às eleições gerais de 09 de outubro era o maior da oposição.
De acordo com o anúncio feito em 24 de janeiro também pelo porta-voz da Renamo, a decisão de convocar o Conselho Nacional tinha sido tomada no dia anterior em reunião da comissão política, e o encontro deveria decorrer em Vilanculos, província de Inhambane, sul do país.
Na altura, Macome acrescentou que a agenda final do Conselho Nacional ainda seria definida, mas que o encontro deveria abordar a “situação do partido” e a “situação política do país”, bem como o processo em torno das eleições gerais de outubro e dos seus resultados, que a Renamo não reconhece e que levou o partido a orientar os 28 deputados eleitos (60 na anterior legislatura), a não participar na tomada de posse, em 13 de janeiro, na Assembleia da República, ocorrendo algumas semanas mais tarde.
Ex-guerrilheiros da Renamo submeteram em 03 de janeiro uma providência cautelar para “travar desmandos” no partido, acusando a direção de Ossufo Momade de agressão física e exigindo a apresentação de relatórios de contas referentes as atividades daquela força política.
“É uma providência cautelar para que não se cause mais danos ao funcionamento da Renamo (…) Nós tivemos uma situação em que guerrilheiros da Renamo sofreram agressões físicas quando foram a sede nacional para pedir um encontro com o presidente do partido”, declarou à Lusa Sérgio Matsinhe, advogado do grupo, após a submissão da providência cautelar ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo.
Em causa estão desavenças internas naquela força política, com um grupo de ex-guerrilheiros a exigir a realização do Conselho Nacional para eleição de uma nova direção, considerando que os resultados do partido nas últimas eleições revelam “incompetência e má gestão”.
Em meados de dezembro, o grupo de ex-guerrilheiros e os membros da segurança do líder da Renamo, Ossufo Momade, envolveram-se em agressões, um dia após os ex-combatentes tentarem encerrar as instalações do partido em vários pontos do país, incluindo a sede nacional, em Maputo.
Na providência cautelar, além de se queixarem de agressões físicas, os ex-guerrilheiros, que exigem a demissão de Momade, pedem também que a justiça moçambicana obrigue o partido a apresentar o relatório de contas e atividades.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro para o Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), até agora extraparlamentar e que apoiou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, elegendo 43 deputados.
O líder da Renamo também foi candidato nas eleições gerais de 09 de outubro ao cargo de Presidente da República, obtendo 5,81% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada em momentos anteriores, assumiu a presidência da Renamo após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953–2018).
Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), foi eleito e tomou posse como quinto Presidente da República de Moçambique em 15 de janeiro.
Moçambique viveu uma guerra civil de 16 anos opondo o exército governamental e a Renamo, que terminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.