Por LUSA
As Nações Unidas prestaram assistência humanitária, através da OIM, a quase 170.000 famílias moçambicanas afetadas por conflitos armados no norte do país e eventos climáticos extremos desde 2021, de acordo com a organização.
“Nos últimos anos, Moçambique enfrentou inúmeras crises, incluindo a escalada de conflitos, ciclones e tempestades tropicais”, aponta um relatório operacional da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com aquela agência da Organização das Nações Unidas, o apoio chegou a um total de 167.966 agregados familiares, afetados pelos desafios que “aumentaram significativamente a vulnerabilidade da população e sobrecarregaram as capacidades de resposta locais”, desde agosto de 2021, no país.
Neste período foram abrangidos 29 distritos em sete províncias e Macomia foi o distrito com maior número de famílias apoiadas, com cerca de 7.627 agregados, seguindo-se Nangade, com 6.956, e Mocímboa da Praia, com 5.362, todos em Cabo Delgado, província que enfrenta uma insurgência armada desde 2017.
Ainda segundo a OIM, pelo menos 124.000 dos agregados familiares alcançados foram afetados pelos conflitos armados, 43.000 por ciclones. Destes, 27.000 receberam apoio através de Mecanismo de Resposta Conjunta da ONU e 38.000 por parceiros.
“Com as perspetivas de financiamento reduzidas para 2025, os parceiros humanitários foram forçados a redefinir as prioridades nos distritos alvo para as respostas aos conflitos e ciclones nas províncias de Cabo Delgado e Nampula e responder a necessidades concorrentes nas províncias afetadas”, acrescenta-se.
A ONU disse no domingo que quase 5,2 milhões de pessoas estão a precisar de assistência, devido à “tripla crise” no país, resultado, entre outros, de “conflito armado, eventos climáticos extremos recorrentes”.
As Nações Unidas já tinham alertado no início deste mês que são necessários cerca de 222 milhões de dólares (196 milhões de euros) para assistir este ano cerca de 1,4 milhões de moçambicanos afetados pela seca associada ao fenómeno climático ‘El Niño’.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.
Só entre dezembro e março, o país já foi atingido por três ciclones, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.
Os eventos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
Por outro lado, desde outubro de 2017 que Cabo Delgado, província do norte, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
Além de Cabo Delgado, a vizinha província de Niassa também já foi palco em abril de um ataque de membros destes grupos, que decapitaram dois guardas-florestais, enquanto o Estado Islâmico reivindicou a morte de três pessoas num ataque na mesma zona.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, um aumento de 36%, segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que analisa conflitos em África.