Por LUSA
Graça Lancaster integra um grupo jovens voluntários que está a cultivar uma área de 50 hectares no interior de Nhamatanda, uma iniciativa cuja produção é destinada a grupos mais vulneráveis daquele distrito na província de Sofala, centro de Moçambique.
“Nós, como voluntários, produzimos para ajudar os nossos beneficiários”, explica à Lusa a jovem agricultora, no meio de dezenas de jovens e mulheres que cultivam o espaço em Mecuzi, no interior de Nhamatanda, a pouco mais de 100 quilómetros da cidade da Beira, capital provincial de Sofala.
São dezenas de jovens e mulheres voluntárias da fundação de caridade Tzu Chi que se juntam diariamente nas primeiras horas do dia em Mecuzi para cultivar a terra e a produção beneficia a mais de quatro mil famílias da comunidade, que também é apoiada com sementes certificadas.
“Nós somos os pés e as mãos daquelas pessoas que não conseguem trabalhar, seja pela idade ou por outro motivo”, acrescenta Graça Lancaster.
Entre outras culturas, o grupo, que tem a ambição de expandir os campos agrários, tem como prioridade a plantação de hortícolas, num distrito que vive o paradoxo entre a seca severa e cheias devastadoras durante os períodos chuvosos em Moçambique.
“Neste ano, nós queremos produzir feijão bóer, como forma também de melhorar o nosso solo”, explicou a técnica agrária de 23 anos, que abandonou a sua terra natal (a vizinha província de Manica) para se juntar aos voluntários da fundação.
Tal como graça, Fernando João, 23 anos, é outro técnico agrário da fundação e voluntário da Tzu Chi que escolheu trabalhar em benefício das comunidades de Nhamatanda, que esteve entre os distritos mais afetados pelo ciclone Idai em 2019.
“Este projeto mudou, primeiro, a mim e a minha família. Mudou a minha forma de pensar. Mas, sobretudo, mudou a minha comunidade e o meu distrito”, afirmou Fernando João.
No total, o grupo tem em Nhamatanda um espaço de 200 hectares, disponibilizados pelo presidente da fundação Tzu Chi.
“Os voluntários são pessoas com muito poucas posses, mas, mesmo assim, deram a seu corpo e alma para ajudar os outros. Fiquei comovido e decidi que dos 620 hectares que tenho aqui em Nhamatanda devia doar à fundação 200”, declarou Dino Foi, presidente da fundação, que tem diversos outros projetos comunitários na região.
O apoio desta fundação ao distrito de Nhamatanda enquadra-se nos esforços para reconstrução após a passagem do Idai e, além desta iniciativa, está em curso a construção de um total de 23 escolas e quatro mil casas para as populações que foram afetadas pelo ciclone.
O pacote de apoio à reconstrução da fundação em Sofala está orçado em 108 milhões de dólares (101 milhões de euros), inteiramente disponibilizados pela organização, que está em Moçambique desde 2012, apoiando as autoridades em momentos de emergência.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.