POR LUSA
O Estado Islâmico reivindicou um ataque, esta semana, em Mocímboa da Praia, com três engenhos explosivos, contra as forças armadas de Moçambique e dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Através dos seus canais de propaganda, o grupo terrorista refere hoje que “três engenhos explosivos foram detonados” pelas patrulhas das Forças Armadas de Defesa de Moçambique e da SAMIM, missão da SADC em Cabo Delgado, entre as aldeias de Mbau, Limala e Mozda.
A Lusa não conseguiu verificar no terreno a veracidade desta reivindicação, que também não refere informação sobre vítimas do ataque.
O distrito de Mocímboa da Praia foi o primeiro alvo dos ataques terroristas em Cabo Delgado, norte de Moçambique, há precisamente seis anos.
A vila sede de Mocímboa da Praia chegou mesmo a funcionar como quartel-general dos rebeldes durante pouco mais de ano, até ser recuperada, em agosto de 2021, pela ação conjunta das forças governamentais moçambicanas e do Ruanda.
As Forças Armadas de Defesa de Moçambique anunciaram em agosto que abateram vários dirigentes do grupo terrorista que atua desde 2017 em Cabo Delgado, incluindo o líder, o moçambicano Bonomade Omar.
Em declarações à Lusa, na quarta-feira, o pesquisador João Feijó, da Organização Não-Governamental (ONG) Observatório do Meio Rural (OMR), considerou que “a insurgência vai perdendo gradualmente poder bélico e capacidade de logística e vão sendo assassinados alguns líderes” da rebelião.
O analista reconheceu que os militares conseguiram expulsar os grupos armados de áreas que ocupavam em Cabo Delgado e travar o crescimento da insurgência: “De uma forma geral, todos (os contingentes militares) estão relativamente satisfeitos”.
João Feijó assinalou que os rebeldes chegaram a atingir uma capacidade ofensiva que lhes permitiu paralisar o projeto de gás natural do consórcio da multinacional francesa Total, quando atacaram a vila de Palma, em março de 2021.
Apesar dos avanços no campo militar, prosseguiu Feijó, o Governo moçambicano “não canta vitória”, porque sabe que os insurgentes “se reinventaram”, atuando em pequenos grupos e mais móveis.
“Continuam a operar em segredo, de uma forma muito discreta, muito baixa, continuam a ter as suas capacidades que não estão ainda eliminadas”, salientou.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, reconheceu na quarta-feira que o terrorismo que há seis anos afeta a província de Cabo Delgado é uma “grave e nova ameaça à paz”, mas sublinhou que não é um conflito religioso.
“Uma grave e nova ameaça à paz em Moçambique é o terrorismo, fenómeno que vem afetando o nosso país, mais concretamente a província de Cabo Delgado, desde outubro de 2017. A brutalidade com que os terroristas operam deixou claro que não se trata de um conflito religioso, mas de um fenómeno impulsionado por fatores como branqueamento de capitais, narcotráfico, delapidação de recursos minerais, entre outros tipos de crime”, afirmou o Presidente, em Maputo, durante a cerimónia do 31.º aniversário do Acordo Geral de Paz, entre a Renamo e as autoridades moçambicanas.
Desde 2017, o conflito no norte de Moçambique fez mais de um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
“Os terroristas já não se encontram nas vilas, desmantelámos as suas principais bases e passaram a atuar em defensiva e em pequenos grupos, protagonizando pequenos ataques esporádicos para saquear comida da população e perpetuar o terror. Com a melhoria da ordem e tranquilidade, as populações têm estado a retornar em massa para as suas zonas de origem, recomeçando a sua vida com normalidade”, referiu ainda Filipe Nyusi.
Na província de Cabo Delgado combatem o terrorismo as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da missão da SADC.r