Por LUSA/RTP
Ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) submeteram hoje uma providência cautelar para “travar desmandos” no partido, acusando a direção de agressão física e exigindo a apresentação de relatórios de contas referentes as atividades daquela força política.
“É uma providência cautelar para que não se cause mais danos ao funcionamento da Renamo. Nós tivemos uma situação em que guerrilheiros da Renamo sofreram agressões físicas quando foram a sede nacional para pedir um encontro com o presidente do partido”, declarou à Lusa Sérgio Matsinhe, advogado do grupo, após a submissão da providência cautelar ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo.
Em causa estão desavenças internas naquela força política, com um grupo de ex-guerrilheiros a exigir a realização do Conselho Nacional para eleição de uma nova direção, considerando que os resultados do partido nas últimas eleições revelam “incompetência e má gestão”.
Em meados de dezembro, o grupo de ex-guerrilheiros e os membros da segurança do líder da Renamo, Ossufo Momade, envolveram-se em episódios de pancadaria, um dia após os ex-combatentes tentarem encerrar as instalações do partido em vários pontos do país, incluindo a sede nacional, em Maputo.
Na providência cautelar apresentada hoje, além de se queixarem de agressões físicas, os ex-guerrilheiros, que exigem a demissão de Momade, pedem também que a justiça moçambicana obrigue o partido a apresentar o relatório de contas e atividades.
“A Renamo tem várias subvenções provenientes do Estado e vários apoios (financeiros), incluindo cotas pagas pelos seus membros. Mas não se sabe qual é o itinerário destas verbas”, acrescentou o advogado dos antigos guerrilheiros.
A Lusa tentou, sem sucesso, falar com o departamento de comunicação da Renamo.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, passando de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
O Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), até agora extraparlamentar e que apoiou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, ficou em segundo lugar ganhando estatuto de principal partido da oposição, com 43 deputados.
A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, manteve-se com uma maioria parlamentar, com 171 deputados.
O líder da Renamo também foi candidato nas eleições gerais de 09 de outubro ao cargo de Presidente da República, obtendo 5,81% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido que foi principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições, 1994.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada em momentos anteriores, assumiu a presidência da Renamo após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953–2018).
Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, ficou com 70,67% dos votos, e Venâncio Mondlane, ex-deputado da Renamo que abandonou o partido após desavenças com Momade, ficou em segundo lugar, com 20,32%, tendo, em terceiro, estado Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceiro partido parlamentar), com 223.066 votos (3,21%).
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.