Por LUSA/RTP
O presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA) moçambicanas saudou hoje “a coragem” do governador do banco central por descer a taxa de juro diretora para 16,50%, mas que considerou ainda insuficiente, pedindo que baixe para um dígito.
“A CTA tem advogado para uma taxa de juro abaixo de um dígito. A taxa de juro abaixo de um dígito vai permitir que o setor produtivo possa ter espaço para fazer investimento (…) Não é salutar que associemos outros riscos, nomeadamente de acesso ao dinheiro, para fazer investimento”, explicou Agostinho Vuma, questionado pela Lusa à margem de um evento oficial em Maputo.
O responsável recordou que “várias intempéries têm atacado o setor produtivo” em Moçambique e que a decisão de descer a taxa diretora, tomada pelo Banco de Moçambique, “é a primeira medida” do género “no mundo”, face à escalada das taxas no pós-covid-19.
“Pode ser que a nossa taxa de juro que é comum seja muito mais alta que outros países do mundo. Mas a verdade é que todo o mundo teve (os juros) a subir e passou do seu normal. Então, pensamos que esta coragem do governador do banco, e até em prometer que pode ir para 30 e tal meses (de descidas), gradualmente, vai potenciar o setor produtivo”, admitiu.
Para Agostinho Vuma, apesar de ser “um bom sinal”, é “ainda insuficiente” para as necessidades dos empresários.
“Se olharmos para a carteira de crédito, cerca de 250 mil milhões de meticais (3.595 milhões de euros), essa redução pode ter um potencial de impactar apenas de 5% e nós, obviamente, queremos mais”, afirmou.
O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu em 31 de janeiro descer a taxa de juro de política monetária, designada por MIMO, de 17,25% em vigor desde setembro de 2022, para 16,50%, a primeira descida desde 2020, anunciou a instituição.
“Esta decisão é sustentada pela consolidação das perspetivas de manutenção da inflação em um dígito, no médio prazo, num contexto em que a avaliação dos riscos e incertezas associados às projeções da inflação é mais favorável”, justificou o Banco de Moçambique, após a reunião do CPMO.
“O CPMO considera estarem criadas as condições para o início de um ciclo de redução gradual da taxa MIMO, com vista à sua normalização num período de 24 a 36 meses. O ritmo e a magnitude dos próximos ajustamentos irão depender das perspetivas da inflação, bem como da avaliação dos riscos e incertezas subjacentes às projeções do médio prazo”, lê-se no comunicado final.
O governador do banco central, Rogério Lucas Zandamela, já tinha admitido ajustar a política monetária adotada no último ano, face à contenção no aumento dos preços, segundo carta dirigida ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Com a inflação agora de volta ao centro do intervalo da meta, o Banco de Moçambique vai monitorizar cuidadosamente a necessidade de ajustar a política monetária para continuar a cumprir o seu mandato de estabilidade de preços”, lê-se na carta, divulgada na semana passada pela Lusa.
Na carta, com data de 19 de dezembro e que integra a terceira avaliação e aprovação do programa de Facilidade de Crédito Alargado (ECF, na sigla em inglês) a Moçambique, concluído este mês pelo FMI, o governador do banco central recorda que em março de 2022, quando a inflação “ainda estava abaixo das metas”, a instituição reagiu a um “aumento esperado” dos preços e face ao “impulso económico após o levantamento das restrições relacionadas com a covid-19”.
Essa reação implicou o aumento da taxa diretora (MIMO) em 200 pontos de base, de 13,25% para 15,25%, seguindo-se em setembro de 2022 novo aumento na mesma proporção, que vigorou até agora.