Por LUSA
A Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, acusou hoje um agente da polícia de tentar assassinar o cabeça de lista do partido na autarquia Metangula, e alertou para a alegada tentativa de manipulação nas eleições autárquicas de quarta-feira.
“Graças à providência divina, o agente errou o alvo. Infelizmente alvejou, sem grande gravidade, um religioso que estava a orientar uma oração”, declarou o porta-voz da Renamo, José Manteigas, durante uma conferência de imprensa em Maputo.
O caso terá ocorrido na tarde de domingo, durante um evento de encerramento da campanha do partido naquela autarquia da província do Niassa, em que participava Vasco António, o cabeça de lista local, segundo o porta-voz do partido.
O agente terá disparado pelo menos 16 tiros, no meio de dezenas de simpatizantes da força política num evento que contava com a presença do comandante distrital da corporação, descreveu o porta-voz da Renamo, José Manteigas.
“Não há dúvidas que ele estava a agir a mando do próprio comandante e a mando de ordens ilegais”, acrescentou.
Contactado pela Lusa, o departamento de comunicação da Polícia da República de Moçambique (PRM) no Niassa rejeitou a alegada tentativa de assassínio, afirmando que as autoridades foram obrigadas a disparar para dispersar uma multidão que estava a lançar pedras contra os agentes.
Na versão da policia, houve um incidente com o cabeça de lista no decorrer do evento “e os colegas que estavam a acompanhar a caravana tentaram aproximar-se para perceber o que se passava. Os simpatizantes começaram a atirar pedras contra a polícia” que agiu “atirando para o ar para dispersar a multidão”.
“Não houve qualquer ferido”, declarou Alves Mathe, chefe do departamento de comunicação e imagem da PRM no Niassa.
Esta é a terceira vez que o principal partido de oposição em Moçambique acusa as autoridades de tentar assassinar os seus cabeças de lista e a polícia moçambicana tem-se sempre demarcado dos episódios.
Além da alegada tentativa de assassinato, a Renamo denunciou supostas tentativas de manipular o processo eleitoral em diversos pontos, com destaque para autarquias de Maputo, Matola, Nacala e Cuamba.
“Na província do Niassa, foi desmantelada uma residência guarnecida por agentes da polícia e que albergava cidadãos provenientes de um outro distrito não autárquico, com o fim de se fazer um recenseamento fraudulento e fora do tempo”, disse Manteigas.
Segundo o porta-voz da Renamo, em Cuamba, também no Niassa, a população “vandalizou uma residência” onde terão sido encontrados 15 cartões de recenseamento eleitoral e 200 colchões.
A Renamo acusa também o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) de recrutar ilegalmente pessoas para fazerem parte das mesas de voto, além de queixar-se de alegadas tentativas de inviabilizar a acreditação dos delegados da oposição e suposta coação de funcionários públicos pelo partido no poder.
“Tivemos também informações fidedignas de que no dia da votação haverá um apagão geral. Isto é, a Eletricidade de Moçambique (EDM) vai fazer o corte de energia ao nível do país. Aqui e agora queremos exortar a EDM para que tudo faça de modo a termos corrente elétrica em todo o país no dia da votação”, acrescentou Manteigas.
Mais de 11.500 candidatos de 11 partidos políticos, três coligações de partidos e oito grupos de cidadãos participaram até domingo na campanha eleitoral para as sextas autárquicas moçambicanas de 11 de outubro.
Cerca de 8,7 milhões de eleitores moçambicanos estão inscritos para votar, abaixo da projeção inicial, de 9,8 milhões de votantes, segundo dados anteriores da Comissão Nacional de Eleições.
Os eleitores moçambicanos vão escolher 65 novos autarcas em 11 de outubro, incluindo em 12 novas autarquias, que se juntam a 53 já existentes.
Nas eleições autárquicas de 2018, a Frelimo venceu em 44 das 53 autarquias e a oposição em apenas nove – a Renamo em oito e o MDM em uma.