POR LUSA
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi anunciado hoje vencedor das eleições autárquicas na Beira, capital da província de Sofala que já liderava, o único município em 46 contabilizados em que a vitória não foi declarada para a Frelimo.
De acordo com o edital do apuramento distrital intermédio apresentado hoje na Beira pelo presidente da Comissão Distrital de Eleições, Otávio Paulo, o MDM, segundo maior partido da oposição no país, foi reconduzido na liderança daquele município com 112.963 votos (58,16%), seguido da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 73.302 votos (37,74%), e da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), com 7.045 votos (3,63%).
Segundo o edital apresentado ao final da tarde, dos 311.466 eleitores inscritos na Beira para as eleições autárquicas de 11 de outubro, votaram 206.719, representando uma taxa de abstenção de 33,63%.
Das 65 autarquias que foram a votos nestas eleições, já foram divulgados resultados intermédios, pelas comissões provinciais e distritais, em mais 45, todas elas com vitória das listas da Frelimo, partido no poder em Moçambique — a generalidade fortemente contestadas pelos partidos da oposição e observadores da sociedade civil – incluindo em Maputo, a capital, em Matola, a cidade mais populosa do país, mas também em Nampula, a ‘capital’ do norte, e em Quelimane, capital da província da Zambézia, estas duas lideradas até agora pela Renamo.
No município de Vilanculo, província de Inhambane, a Frelimo venceu, com 10.023 votos, mas apenas uma diferença de 34 votos para a Renamo (9.989 votos), segundo o edital de apuramento distrital intermédio.
Nas eleições autárquicas de 2018, a Frelimo venceu em 44 das 53 autarquias – foram criadas mais 12 autarquias nestas eleições – e a oposição em apenas nove, casos da Renamo, em oito, e do MDM, na Beira.
A Ordem dos Advogados de Moçambique manifestou hoje “profunda preocupação” face ao “elevado nível de violência” após a eleição autárquica de quarta-feira, que “revela um descrédito nas instituições que administram o processo eleitoral”.
“Os níveis de violência, para além de poderem desacreditar qualquer resultado eleitoral, podem igualmente gerar suspeição relativa à integridade do próprio ato eleitoral, como um todo e das instituições que o administram”, refere um comunicado daquela Ordem, assinado pelo bastonário, Carlos Martins.
O principal partido de oposição em Moçambique tem estado a denunciar alegadas fraudes nas autarquias cujos resultados intermédios foram anunciados, todos dando vitória à Frelimo, acusando a polícia de estar a ser instrumentalizada pelo partido no poder.
“Responsabilizamos ao senhor Bernardino Rafael (comandante da polícia moçambicana) e ao partido no poder por todas consequências que surgirem da fúria dos moçambicanos que em protesto deste linchamento e assassinato da democracia”, disse o presidente da Renamo, Ossufo Momade, numa conferência de imprensa na quinta-feira.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país na quarta-feira.
Pouco mais de 4,8 milhões de eleitores podiam votar nestas eleições, tendo a porta-voz do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), Regina Matsinhe, assegurado à Lusa que se tratou de uma votação “ordeira e pacífica”, embora apontando “incidências ao longo do dia”.