Por LUSA
A África Austral registou 6 milhões de pessoas deslocadas das suas áreas de residência devido a catástrofes naturais, conflitos e violência nos últimos 15 anos, com Moçambique a ser o país que mais casos regista.
Os dados constam do relatório da organização não-governamental (ONG) Centro de Monitorização das Deslocações Internas (IDMC, na sigla em inglês), que faz parte do Conselho Norueguês para os Refugiados, e que foi divulgado em Genebra.
“A maioria foi registada em Moçambique, que é afetado por ambos os fatores”, destaca o IDMC, salientando, contudo, que neste país lusófono “são produzidos mais dados do que noutros países”.
“É difícil traçar um quadro claro das tendências de deslocação interna a nível sub-regional, o que sublinha a necessidade de melhorar e manter os esforços de monitorização”, refere.
Moçambique é o país destacado na África Austral, região que representa mais de metade (59%) de todas as deslocações provocadas por catástrofes naturais consideradas pelo IDMC no continente africano.
Relativamente a conflitos e violência, a situação em Cabo Delgado, província do norte de Moçambique, foi a que desencadeou mais deslocações, 592 mil até ao final de 2023, em consequência das ações terroristas conduzidas desde 2017 pelo movimento fundamentalista islâmico Ahlu Sunna Wal-Jama (ASWJ).
Outro país lusófono destacado no relatório é Angola com o IDMC a realçar que os números relativos a este país “devem ser considerados como subestimações significativas”, porque as principais zonas urbanas, incluindo a capital, Luanda, estão expostas a um elevado risco de inundações.
“Os relatórios mostram que áreas inteiras da cidade são inundadas durante a estação das chuvas, mas é difícil obter dados completos sobre as deslocações”, afirma.
Os dados mais recentes relativos a Angola apontam para 79 mil deslocados devido a catástrofes naturais em 2023, incluindo 36 mil devido às inundações na província costeira do Cuanza Sul, em meados de dezembro.
No início de novembro chuvas fortes e inundações provocaram mais 6.800 deslocados na província de Malanje.
Até ao final de 2023, o relatório estima em 35 milhões o número de pessoas deslocadas internamente (IDP, na sigla em inglês) em África, valor que representa metade do total mundial e três vezes mais do que em 2009.
Apenas cinco países – Etiópia, Nigéria, República Democrática do Congo, Somália e Sudão -, totalizam 80% das pessoas deslocadas devido a conflitos e violência em África.
“As alterações climáticas estão a tornar os riscos relacionados com o clima mais frequentes e mais intensos, e estão a amplificar outros fatores que tornam as comunidades mais vulneráveis à deslocação por catástrofes, aumentando o risco de futuras deslocações”, alerta o IDMC.
A ONG adverte que, se os Governos africanos e os seus parceiros internacionais não redobrarem os seus esforços, “é provável que o número de pessoas forçadas a abandonar as suas casas continue a aumentar”.
“Ao chamar a atenção para a escala, as causas e os impactos da deslocação interna em África, e ao demonstrar que o progresso é possível, este relatório visa gerar um interesse renovado e um maior investimento na abordagem desta questão crítica”, sublinha.
A ONG destaca ainda que os conflitos, a violência e as catástrofes sobrepõem-se frequentemente ou repetem-se, “provocando crises de deslocação complexas”.
“Estas situações vêm juntar-se aos baixos níveis de desenvolvimento socioeconómico, à insegurança alimentar e a outros desafios, colocando os deslocados internos num ciclo de vulnerabilidade e risco de deslocação”, acrescenta.