Por LUSA/RTP
Um grupo de alegados terroristas atacou uma ambulância do serviço de saúde do distrito de Mueda, norte da província moçambicana de Cabo Delgado, levando medicamentos e bens dos doentes, disse à Lusa uma fonte daquela instituição.
O ataque aconteceu na sexta-feira, no troço entre Awasse e Macomia, ao longo da estrada Nacional 380 (N380), uma das poucas asfaltadas do norte da província, logo depois de o motorista da ambulância avistar, na via, homens encapuzados que o obrigaram a parar.
“Ia para Pemba e aí os homens mandaram parar e obrigou a todos a descer”, disse a fonte, acrescentando que a viatura foi levada para a mata e saqueada pelos atacantes, que levaram suplementos destinados a doentes, e bens dos ocupantes.
Os cinco ocupantes, incluindo o motorista, foram libertados “após pagarem 10.000 meticais (135 euros) cada um”.
“Em menos de cinco minutos a ambulância já estava no mato. Lá levaram computador e telemóvel de uma colega e suplementos de doentes”, descreveu.
O presidente do conselho empresarial de Cabo Delgado pediu em 16 de julho a retoma de escoltas militares em alguns troços face a cobranças ilícitas feitas por supostos terroristas para circulação naquela província.
“Até neste momento estamos a contabilizar 104 viaturas (interpeladas), até no sábado, é um número maior, aterroriza, porque o resgate é maior, os valores ali variam de 200 a 350 mil meticais (2.691 a 4.710 euros), imagina se você não tem, a viatura vai em cinza”, disse, em declarações à comunicação social, Mamudo Irache, da Confederação das Associações Económicas, CTA, maior representante do setor privado moçambicano.
Segundo o representante provincial, a alegada cobrança de valores por supostos grupos insurgentes como condição para circular ocorre desde janeiro, no troço entre a localidade de Awasse, no distrito de Mocímboa da Praia, e no distrito de Macomia, antes palcos de sucessivos ataques de grupos terroristas.
Além da cobrança de dinheiro, Mamudo Irache alertou também para o aumento de raptos em vias que ligam os distritos mais à norte de Cabo Delgado, face à retirada de escoltas militares, uma medida que, até há pouco tempo, funcionava principalmente no trajeto entre Macomia e Awasse.
“Nesta primeira fase que as incertezas acontecem pedíamos a retoma de escolta, este é o primeiro ponto. Retomando a escolta, obviamente, os empresários se sentiriam seguros”, disse o responsável, pedindo também que sejam colocadas posições militares em zonas consideradas perigosas.
“Como são as áreas identificadas (onde) sempre têm acontecido os atos de raptos, colocarmos uma posição permanente nesta via se calhar isso poderia ajudar a nós, como empresários, e poderia ajudar a região”, referiu o presidente do conselho empresarial de Cabo Delgado.
Numa menção a um encontro com o governo provincial, ocorrido na terça-feira, o Presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários de Cabo Delgado, Cassimo Ibraimo, referiu ter apresentando o mesmo problema, reiterando que a “situação é preocupante” em Cabo Delgado.
“Tivemos um encontro ontem sobre isto e colocamos como um desafio e pedimos que o governo nos ajude neste contexto. Você quer viajar, (mas) sem dinheiro já não passa, então já colocamos esse assunto ao governador da província”, disse aos jornalistas Cassimo Ibraimo.
A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.