Por LUSA
O contingente militar do Botsuana começou a retirar-se na sexta-feira de Cabo Delgado, norte de Moçambique, marcando o início da saída da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM) que combatia o terrorismo, foi hoje anunciado.
“Sexta-feira, dia 05 de abril de 2024, marca o início da retirada da força SAMIM. O contingente retirado de Cabo Delgado foi o do Botsuana, que tinha chegado à área da missão em outubro de 2023”, refere a missão da SADC em Moçambique, numa nota divulgada hoje.
A saída do contingente do Botsuana foi marcada por uma cerimónia militar na província de Cabo Delgado.
“Entre outras realizações do mandato do SAMIM, o contingente do Botsuana participou numa operação ofensiva para neutralizar os terroristas e realizou projetos de impacto rápido. Estas atividades fizeram com que um número significativo de Pessoas Deslocadas Internamente (PDI) regressasse à sua vida normal”, acrescenta-se na nota.
A missão da SADC em Moçambique está em Cabo Delgado desde meados de 2021 e, em agosto de 2023, a SADC aprovou a sua prorrogação por mais 12 meses, até julho de 2024, prevendo um plano de retirada progressiva das forças dos oito países da região que a integram.
A SAMIM compreende tropas de oito países contribuintes da SADC, nomeadamente Angola, Botsuana, República Democrática do Congo, Lesoto, Maláui, África do Sul, República da Tanzânia e Zâmbia, “trabalhando em colaboração com as Forças Armadas de Defesa de Moçambique e outras tropas destacadas para Cabo Delgado”.
O Governo moçambicano assumiu em 26 de março que a condição atual da guerra contra rebeldes na província de Cabo Delgado justifica a saída daquela missão militar.
“A situação em que nós nos encontramos agora é muito diferente daquela em que nós estávamos quando esta força veio a Moçambique. A situação atual já justifica que se acione a sua retirada”, declarou Filimão Suaze, porta-voz do Governo moçambicano, momentos após uma reunião do Conselho de Ministros, em Maputo.
A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana anunciou em 23 de março que as tropas da SADC vão abandonar o país devido a limitações financeiras.
“A SAMIM está a enfrentar alguns problemas financeiros e nós (Moçambique) também temos de tomar conta das nossas tropas e teríamos dificuldades em pagar pela SAMIM. Os países não estão a conseguir colocar o dinheiro necessário”, declarou Verónica Macamo.
Segundo o porta-voz do Governo, a retirada da tropa da SADC esteve sempre na mesa e nada impede o Governo de voltar a solicitar a missão, caso julgue necessário.
“Estas missões sempre têm um prazo, para o início e para o seu término. Esperamos que todos os pressupostos sejam observados para, até ao final de julho, esta força tenha regressado, nada obstando que, entendendo haver necessidade do seu regresso a Moçambique, assim o seja”, acrescentou o porta-voz do executivo moçambicano.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência, que desde dezembro de 2023 voltou a recrudescer com vários ataques às populações e forças armadas, levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio primeiro do Ruanda, com mais de 2.000 militares, e da SADC, libertando distritos junto aos projetos de gás.