Por LUSA
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe partilharam hoje experiências sobre a imigração, durante uma conferência realizada na capital são-tomense, com foco numa “diplomacia das comunidades” e políticas públicas para a inclusão e valorização da diáspora.
O evento foi organizado pela Associação Cabo-verdiana de Ação Social em São Tomé e Príncipe (ACAS-STP) sob o tema “Diáspora e Desenvolvimento – Migração Cabo-verdiana para São Tomé e Príncipe”, e contou com a participação do ministro das Comunidades e do Mar de Cabo Verde, Jorge Santos.
“Hoje, cada vez mais, estamos a entender que a diáspora, as nossas diásporas, as comunidades, as nossas migrações, os nossos migrantes, são um capital endógeno dos nossos países, mas é preciso ir lá ter com eles, acarinhá-los e levá-los a ter cada vez melhor integração e só é possível com políticas públicas, com uma visão aberta, com uma visão de liderança”, disse Jorge Santos.
O ministro das Comunidades de Cabo Verde referiu que passaram os tempos em que a relação com a diáspora era vista “só pela saudade, pelos contratados, pelo trabalho menos digno, como algo que era um problema”.
“Hoje não. Hoje é um potencial, porque atrás das pessoas tem o poder social, tem o poder económico, o poder cultural e o poder desportivo”, defendeu o ministro cabo-verdiano, sublinhando que a emigração não é uma fatalidade.
Jorge Santos realçou que apenas 500 mil (25%) dos cabo-verdianos residem nas ilhas de Cabo Verde, enquanto 1,5 milhões (75%) residem na sua imensa diáspora na América, na Europa, em África e na Ásia. Por isso, defendeu “uma nova visão” da forma de fazer as relações diplomáticas para “não só fazer a diplomacia formal, mas também fazer a diplomacia das comunidades”, que considera “tão importante ou mais importante” num acréscimo ao desenvolvimento nacional.
Segundo Jorge Santos, a participação da diáspora cabo-verdiana “representa 34% do seu Produto Interno Bruto”, através das remessas financeiras e o capital humano, o investimento direto na economia em vários setores de rendimento e também no investimento social, no empreendedorismo social, nas encomendas, o apoio de saúde, o apoio de educação e o apoio familiar.
“Hoje, o maior equilibrador social e do estoque de divisas do país são as nossas comunidades, cujo montante em numerário já ascende a 400 milhões de dólares americanos (380,9 milhões de euros) por ano, anualmente transferidos”, apontou, realçando que isso “exige políticas públicas de criar um ecossistema favorável, facilidades fiscais e facilidades” para criar essa atração e fazer chegar e regressar esse capital.
O primeiro-ministro são-tomense realçou que o os Governos de Cabo Verde e de São Tomé Príncipe têm estado “a trabalhar, ao longo das últimas décadas, com muito esforço, com muito afinco para que os cabo-verdianos em São Tomé e Príncipe e os são-tomenses em Cabo Verde “possam se sentir em casa”.
“Todos nós sabemos o papel relevante de Cabo Verde na formação dos jovens são-tomenses, o papel relevante de Cabo Verde no apoio social à comunidade cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe e o empenho que os dois Governos têm de fortalecer e desenvolver a cooperação económica multiproveitosa para os nossos dois povos”, disse Patrice Trovoada.
Para o chefe do Governo são-tomense, o principal ou único desafio neste processo “é sem dúvida a conectividade marítima e aérea entre São Tomé e Príncipe e Cabo Verde”, sendo uma situação que os dois países esperam ver ultrapassada em parceira com Angola.