Por LUSA
O Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, mandou hoje os padeiros do país venderem o pão mais caro que o determinado pelo Governo e em vigor desde domingo.
Dezenas de padeiros tradicionais concentraram-se em protesto contra a medida governamental junto ao palácio da Presidência, onde foram todos recebidos no salão nobre pelo Presidente. Umaro Sissoco Embaló disse aos padeiros que vai falar com o Governo e outros agentes do setor e para, entretanto, continuarem a vender o pão ao preço que estava, para evitar que falte no mercado. “Vamos chegar a um consenso, vou chamar o Governo, antes vou ouvir quem vende, mas pão não pode faltar. Quem quer comprar pão ao vosso preço, que vá comprar e comer, quem não quer, não é obrigado a comprar, onde é que está o problema?”, disse aos padeiros. O chefe de Estado, que não falou com os jornalistas no final da reunião, disse ainda para não terem medo, afirmando que ninguém vai a casa dos padeiros e que enquanto ele for Presidente da República ninguém lhes “vai tocar”. Os padeiros estão parados desde domingo em protesto contra a decisão do Governo de baixar o pão de 200 (0,30 euros) para 150 francos cfa (0,22 euros) e a farinha de 29.000 (44 euros), o saco de 50 quilos, para 24.600 (37 euros). Desde terça-feira que o protesto se tornou mais visível e a população está praticamente sem pão, já que são os padeiros tradicionais os principais fornecedores, nomeadamente do pão kuduro, o mais consumido, e as padarias industriais ficaram sem capacidade de dar resposta à procura. Tanto o Governo como a associação que representa os padeiros falaram em “boicote”, mas hoje o presidente da mesma associação, Adulai Djalo, disse que quem tinha falado não tinha legitimidade, nem quem fez o acordo com o Governo. “O pessoal que assinou com o Governo não são os padeiros, os padeiros nunca assinaram com o Governo”, afirmou aos jornalistas. O representante disse que vão seguir o Presidente da República e que hoje mesmo vão trabalhar e vender o pão a 200 francos cfa. “Quando terminarem as negociações, ele chama-nos novamente para dizer o preço”, acrescentou. O representante dos padeiros deixou claro que se o saco da farinha custar mais do que 17.500 fca (26 euros), o pão terá que custar 200. “Quando baixar o preço da farinha, também baixamos o preço do pão. Se a farinha não baixar, também não podemos baixar o preço do pão”, vincou. O vice-presidente da mesma associação, Mamadu Camará, garantiu, na terça-feira, à Lusa que esta organização não convocou qualquer greve e atribuiu a paragem a “grupinhos” que tentam “alterar a ordem do Governo” e que considera “ilegais”. A paralisação no pão surpreendeu o ministro do Comércio, João Handem Júnior, que disse aos padeiros que haverá sanções para todos aqueles que tiverem farinha e não estejam a produzir pão e que a mesma será confiscada. Fez o mesmo aviso aos intermediários e considerou que os proprietários das padarias tradicionais, maioritariamente da Guiné Conacri, “estão claramente a desafiar o Estado da Guiné-Bissau”. O ministro assegurou que haverá compensações pelas perdas, concretamente que a “diferença entre o preço anterior e o novo será compensada em dinheiro ou em farinha”. João Handem Júnior disse ainda à Lusa que estavam a ser desembarcados, em Bissau, “160 contentores de farinha na nova estrutura de custos de pão”, que vai ser distribuída pelos padeiros.