Por LUSA
Mais de dois terços das crianças da Guiné-Bissau não concluem o ensino primário, com a educação entre as privações num país onde mais de metade da população é jovem, segundo dados divulgados pela UNICEF.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) fez o ponto da situação das crianças no país africano, no início de um fórum que, durante dois dias, assinala o Dia da Criança e discute com os jovens a Guiné-Bissau que querem, alinhados com a visão 2063 da União Africana.
Segundo a UNICEF, “na Guiné-Bissau, a análise multidimensional das privações das crianças, realizada em 2021, mostrou claramente que quase sete em cada dez crianças sofrem seis ou mais privações dos seus direitos ao mesmo tempo”.
A pobreza faz parte das privações, sendo um dos grandes pontos que atinge as crianças e jovens da Guiné-Bissau, como disse à Lusa Wilson Gama, da UNICEF, mas destaca-se também a questão da educação.
“A taxa de conclusão do ensino primário está nos 30%, segundo o último relatório que diz que três em cada dez crianças concluiu o ensino primário. É preocupante”, vincou.
Estes indicadores relativos à educação constam de um relatório realizado em 2018 e aquela organização não tem outros dados mais atualizados.
A análise às privações realizada em 2021 mostra, também, que “os jovens da Guiné-Bissau estão na quinta posição entre os que mais são vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas”.
Os impactos, segundo disse, “sentem-se ao nível da sua saúde, educação e proteção, deixando-os expostos a doenças mortais”, num país onde “as crianças estão altamente expostas a inundações costeiras e poluição do ar”.
O relatório refere que são necessários investimentos em serviços sociais, especialmente na educação, água, higiene e saneamento.
Segundo o mesmo documento, “76% de crianças são vítimas de disciplina violenta”, apenas “14% das crianças têm acesso a saneamento” e a percentagem das que participam em programas da primeira infância é inferior a 15%.
“São dados preocupantes para a Guiné-Bissau”, reiterou.
Para o representante da UNICEF, “as mudanças não dependem só do Governo”.
“Todos temos um papel a desempenhar, desde os pais em casa, desde os parceiros nacionais e internacionais, os líderes religiosos e comunitários, mas obviamente o Governo tem um papel diferente em relação às outras entidades”, considerou.
O propósito do fórum que decorre em Bissau é elaborar um plano de ação para entregar ao Governo guineense, com propostas para alterar a situação.
A iniciativa junta-se às celebrações do Dia Mundial da Criança, assinalado a 20 de novembro em todo o mundo, em simultâneo com o aniversário da criação da Convenção sobre os Direito da Criança, em 1989, pelo Comité dos Direitos das Crianças, das Nações Unidas.
O fórum da juventude agrupa jovens de todas as regiões da Guiné-Bissau, que vão contribuir com opiniões e visões do terreno, do que está a suceder em cada comunidade, e vão elaborar um plano de ação do que é que os jovens da Guiné-Bissau têm como visão para o país em que vivem.