Por LUSA
O arquipélago das Bijagós, na Guiné-Bissau, está prestes a ser reconhecido Património Mundial Natural da UNESCO, mas os naturais da zona exortam as autoridades a adotarem medidas de combate à criminalidade que aí se verifica.
Helder Quecu Ié, presidente da associação de filhos de Ancadedja, uma das comunidades da ilha de Bubaque, disse à Lusa que o reconhecimento “é bom para todos os filhos das ilhas Bijagós”, mas também notou ser crucial “um combate sério aos sinais de crime” na zona.
O líder associativo exortou as autoridades a colocar forças de segurança em todas as 23 ilhas habitadas do arquipélago das Bijagós e reforçar o patrulhamento regular às restantes ilhas não habitadas.
“Se os malfeitores souberem que a polícia efetua visitas a essas ilhas vão ter mais cuidado, vão ter medo nas suas ações ilícitas”, defendeu Quecu Ié.
Bubaque é o maior centro de turismo balnear da Guiné-Bissau e uma das localidades com maior concentração populacional no arquipélago das Bijagós, mas também é apontado como local de alguma criminalidade.
Carlos Samande, da organização Fórum de Paz, admitiu à Lusa que o turismo, principal atividade em Bubaque, “tem potenciado a prática de prostituição”, e apelou para o reforço dos conhecimentos sobre cidadania junto da população local.
“Temos de admitir que essa prática existe, mas não podemos aceitar o seu fomento”, declarou Samande.
O ativista social defendeu que o crime ligado ao tráfico ou consumo da droga “é uma realidade” no arquipélago dos Bijagós pelo facto de ser uma zona insular que “é maior do que a parte continental do país”.
“A droga é descarregada na zona costeira e tem tendência de chegar às ilhas não habitadas. Isso não podemos negar. O próprio Governo central da Guiné-Bissau sabe disso”, observou Carlos Samande.
O ativista diz não possuir elementos que possam indicar de forma clara toda essa prática, mas lembrou que o arquipélago das Bijagós está ligado a outros continentes por via marítima.
“Estamos ligados aos oceanos, facilmente podemos ser conectados com esses negócios ilícitos que não queremos que se perpetue no tempo”, sublinhou Samande.
Numa entrevista à Lusa, no mês de abril passado, o deputado e antigo ministro da Guiné-Bissau Francisco Conduto de Pina denunciou uma alegada utilização das ilhas Bijagós, de onde é natural, para tráfico internacional de droga por agentes de países latino-americanos.
Várias vezes ministro do Turismo, Juventude, Cultura e Desporto, Conduto de Pina afirmou que as autoridades do país “sabem que as ilhas Bijagós são utilizadas para esse fim”.
“Quem levanta voo da Venezuela para a Guiné-Bissau, (até) aos Bijagós, gasta cinco horas e 40 minutos, num voo transatlântico, nesses aviões que eles utilizam. Combinam com nacionais (que) sabem, por uma questão do GPS, dizem o sítio onde vão estar, chegam, lançam o que têm de lançar e depois voltam à origem”, afirmou o político.
Conduto de Pina tem liderado, desde meados dos anos 1990, um projeto que visa dotar o arquipélago dos Bijagós de autonomia administrativa e financeira, mecanismo a partir do qual acredita que aquela zona “poderá se livrar da má fama”.
“Fala-se bem e fala-se mal das Bijagós”, afirmou, referindo que a zona é falada “no bem” sobre a sua rica biodiversidade e a sua potencialidade turística, que salientou ser única na costa atlântica africana.
“Na verdade, as ilhas Bijagós são utilizadas pelos malfeitores internacionais, em colaboração com alguns nacionais. Mas o Estado sabe disso”, declarou.
O deputado, dono de uma agência de viagens, explicou à Lusa como os traficantes internacionais, que operam em aviões provenientes do Brasil, Bolívia, Guiana Francesa e Venezuela, chegam às Bijagós.
Contactadas pela Lusa, elementos das autoridades policiais na região declinaram prestar declarações.
As ilhas, consideradas um tesouro natural e cultural, fazem parte da lista de 32 sítios de todo o mundo candidatos a Património Mundial, que vão conhecer a decisão da UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, a 11 de julho, em França.
A 47.ª reunião do Comité do Património Mundial decorre até 16 de julho, na sede da UNESCO em Paris, França.