Por LUSA
O conselheiro político do Presidente guineense, Fernando Delfim da Silva, defendeu que Umaro Sissoco Embaló “tem protegido a integridade política” do Estado e a ordem constitucional, daí a ausência de golpes militares no país desde 2020.
Antigo chefe da diplomacia guineense, Delfim da Silva fez a observação numa reação, no palácio da República, em Bissau, às declarações do primeiro-ministro, Xanana Gusmão, segundo as quais a Guiné-Bissau “passou de golpes de Estado para golpes presidenciais”.
Em entrevista à agência Lusa em Díli, a propósito dos 25 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste, que se assinalam em 30 de agosto, o chefe do Governo timorense referiu que a situação que se verifica desde há uma década na Guiné-Bissau “é uma ameaça real à democracia”.
Para o conselheiro político do chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embaló “mudou o paradigma securitário” do país, desde que chegou à presidência em 2020, um facto que poderá não ser do conhecimento de Xanana Gusmão, disse.
“A sua determinação muito forte de proteger a integridade política do Estado que passa pelo imperativo, de ele próprio, como chefe de Estado, e por conseguinte, garante da ordem constitucional, não permitir em nenhum momento que o Estado de direito democrático seja posto em causa”, declarou Delfim da silva.
Na perspetiva do conselheiro político do Presidente guineense, o trabalho de Sissoco Embaló, “é uma novidade e histórico”, por conseguir evitar tentativas de golpes militares desde 2020.
“Ergueu-se, pela primeira vez, nos últimos 30 anos, uma forte barreira institucional de prevenção contra os golpes de Estado que corresponde a uma rotura institucional com um passado tão marcado negativamente por recorrentes mudanças inconstitucionais”, afirmou Delfim da Silva.
O responsável guineense exorta o primeiro-ministro timorense a lembrar-se da história, nomeadamente, o facto de combatentes do seu país terem sido formados na Guiné-Bissau por causa da sua luta armada.
Delfim da Silva considera que Xanana Gusmão “já não se lembra de muitas coisas”, evocando que a luta de libertação nacional na Guiné-Bissau serviu de símbolo de motivação para os timorenses.
“Enfim, é todo esse passado de amizade e de respeito que alguns timorenses estão agora a tentar manchar por causa desse seu atrevimento de querer intrometer-se nos assuntos internos da Guiné-Bissau, de quererem dar-nos lições. Lições de Mari Alkatiri, de Xanana Gusmão não. Não as vamos tolerar”, destacou.
A menção a Alkatiri, ex-primeiro-ministro e secretário-geral Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), surge também após uma entrevista à Lusa em que este argumentou que a Guiné-Bissau não tem condições de acolher, em 2025, a cimeira e a presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“A força que atua na Guiné-Bissau”, que, “toda a gente sabe, é a droga”, defendeu ainda Mari Alkatiri, com Delfim da Silva a a afirmar que se tratavam de declarações de “um ingrato”.
Delfim da Silva voltou a frisar que se a Guiné-Bissau já organizou “com êxito”, em Bissau, as cimeiras de líderes da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) terá todas as condições para acolher a da CPLP.
O conselheiro do Presidente guineense notou, contudo, que a Guiné-Bissau nunca fez questão de assumir a presidência rotativa da comunidade lusófona.
“O Presidente, Umaro Sissoco Embaló, nunca brigou para trazer para a Guiné-Bissau a presidência da CPLP. Esteve sempre disponível para ceder e permitir que um outro país irmão se passasse para a frente de acordo com as suas próprias conveniências”, esclareceu Delfim da Silva.
A Guiné-Bissau deve assumir, em 2025, a presidência rotativa e acolher a cimeira de líderes da CPLP.