Por LUSA
Dezenas de guineenses assinaram uma carta aberta à União Africana a denunciar a situação na Guiné-Bissau, designadamente a atuação do Presidente, Umaro Sissoco Embaló, a quem acusam de ter “capturado o país para o seu interesse pessoal”.
A carta aberta, a que a agência Lusa teve acesso e que se intitula “Restaurar a democracia na Guiné-Bissau”, é dirigida a Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana.
Em declarações à Lusa, um dos responsáveis da carta aberta, o economista Braima Mané, assistente na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, onde está a fazer um doutoramento em Economia, disse que o que se passa atualmente na Guiné-Bissau “é surreal”.
“É surreal. É surreal. Atualmente na Guiné acontece uma situação de absurdos. É uma coisa inimaginável. Temos a intenção, se não se fizer nada, de apresentar uma queixa, fazer uma participação ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e ao Tribunal Penal Internacional das consequências que possam advir dos atos de Sissoco”, declarou.
“Como escrevemos na carta, Sissoco criou, à margem das leis da República, o seu exército pessoal de mais de mil homens. Sissoco está deliberadamente a provocar. Sissoco quer criar o caos na Guiné-Bissau. Nós não queremos isto. Nós somos de paz, nós queremos que se resolva o problema politicamente e com o apoio da comunidade Internacional”, acrescentou.
Para Braima Mané, “o que se passa é que há um grupo de pessoas que capturaram o país para os seus próprios interesses. Sissoco e os que o acompanham não estão lá para servir o país. Estão lá para o seu interesse pessoal e (Sissoco) tem o apoio dos militares. Os militares é que estão a sustentar, porque têm armas”.
A maioria dos subscritores vive em Portugal e o segundo grupo mais numeroso são residentes na Guiné-Bissau, e há ainda guineenses que vivem e trabalham em França e no Reino Unido.
Os subscritores começam por criticar a incapacidade da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) em resolver os problemas na Guiné-Bissau, apesar do mandato que recebeu da ONU e da União Africana, após o golpe de Estado de 2012, para mediar os diferendos internos e garantir a devolução do poder aos civis.
“A CEDEAO tem mostrado conivência com o que se passa na Guiné-Bissau”, disse Braima Mané à Lusa, recordando que a denúncia do que se passa no país feita à organização sub-regional não teve qualquer efeito.
Os subscritores anunciam na carta aberta que, quando a Guiné-Bissau for “resgatada das amarras da ditadura”, vão, enquanto cidadãos, iniciar diligências junto dos deputados guineenses para que seja convocado um referendo para a saída do país da CEDEAO.
“Se esta organização sub-regional não consegue ajudar o nosso país nos momentos conturbados e cruciais, que vantagem temos de continuarmos a fazer parte dela? A resposta é obviamente negativa”, justificam.
Daí os subscritores terem optado agora por apresentar a denúncia à União Africana, reservando-se o direito de fazer o mesmo perante o Conselho de Segurança da ONU.
“Entendemos que há uma fadiga em relação à Guiné-Bissau da parte da comunidade internacional, mas ao mesmo tempo achamos que a causa do problema da Guiné nunca foi abordada e daí que nós fizemos este levantamento da situação da Guiné”, explicou.
Na carta, os subscritores denunciam a corrupção que grassa no país e o tráfico de droga que a sustenta.
“Salta à vista, até para o observador menos atento da realidade política guineense, que a nossa terra está infestada de corrupção em todas as esferas do poder de Estado, exacerbado e financiado pelo tráfico de drogas em escala industrial”, lê-se na missiva.
Daí, considerarem que a comunidade internacional, em especial a União Africana, “não pode continuar indiferente à situação política da Guiné-Bissau, como se se tratasse da filha de uma deusa menor abandonada à sua sorte numa maré de absurdos”.
A carta aberta tem como título “Restaurar a democracia na Guiné-Bissau” e foi dado conhecimento do seu conteúdo às Nações Unidas, União Europeia, CPLP e CEDEAO.