Por LUSA
O antigo ministro guineense Francisco Conduto de Pina considerou que a decisão da Justiça guineense de arquivar o processo de investigação do assassínio do ex-Presidente João Bernardo “Nino” Vieira “é um ato de covardia”.
Atual deputado e ex-genro de “Nino” Vieira, com quem casou a filha primogénita do ex-chefe de Estado, Florença Vieira, Conduto de Pina disse à Lusa que não concorda com o arquivamento das investigações por existir matéria suficiente que permitia levar ao julgamento do caso.
Em 02 de março de 2009, a poucos dias de completar 67 anos, “Nino” Vieira foi assassinado na sua residência em Bissau, por homens armados, em circunstâncias ainda por esclarecer, horas depois de um ataque à bomba que vitimou mortalmente o chefe das Forças Armadas, Tagmé Na Waié.
Ainda foram investigadas as circunstâncias da sua morte, mas em dezembro de 2017, o Procurador-Geral da República, Bacari Biai, evocou uma determinação legal ditada pelo Supremo Tribunal de Justiça, nas vestes de Tribunal Constitucional, para ordenar o arquivamento das investigações do processo.
De acordo com o Procurador guineense, aquela instância ordena o arquivamento de qualquer processo se após seis meses de investigações não forem deduzidas provas.
Bacari Biai, que não concorda com a diretriz do Tribunal Constitucional, lamenta que o Ministério Público não tenha tido formas de ouvir todas as testemunhas das circunstâncias do assassínio de “Nino” Vieira, nomeadamente a viúva, Isabel Vieira.
“Sem provas materiais não se podem deduzir acusações”, dizia Biai para sublinhar as dificuldades em inquirir a viúva “Nino” Vieira, testemunha ocular do dia em que foi assassinado.
Para Conduto de Pina, essa versão não passa de falta de coragem dos responsáveis judiciais guineenses.
“Eu acho que é falta de coragem porque as pessoas sabem quem matou, quem mandou matar, quem fez. Andam aqui na cidade”, defendeu.
“Nino” foi assassinado em março de 2009, mas no mês de novembro de 2008 viu a sua residência no bairro de Chão de Papel atacada por homens armados, um facto que, segundo Conduto de Pina, o levou a admitir a possibilidade de renunciar ao cargo de Presidente da Guiné-Bissau.
Só não foi avante com a sua intenção, até registada num documento na posse de alguns dirigentes do país, por ter sido demovido por várias pessoas, entre as quais o general Tagmé Na Waié, então chefe das Forças Armadas, contou Conduto de Pina.
Tagmé Na Waié, morto à bomba, no dia 01 de março de 2009, seria a origem do assassínio de “Nino” Vieira um dia depois.
Quando soube do ataque que vitimou Na Waié, “Nino” ainda quis deslocar-se ao Estado-Maior das Forças Armadas, mas só não o fez por ter sido desaconselhado por militares e dirigentes políticos que estiveram numa reunião de urgência com o Presidente.
Muitos presentes na reunião, entre os quais Conduto de Pina, insistiram para que “Nino” saísse de casa e fosse para uma embaixada em Bissau, uma recomendação que não quis aceitar, vinda até de alguns chefes de Estado.
Os então Presidentes angolano, José Eduardo dos Santos, e senegalês, Abdoulaye Wade, ainda falaram do telemóvel de Conduto de Pina na tentativa de persuadir “Nino” Vieira a sair da sua residência, ao tomarem conhecimento do ataque à bomba que tinha acabado de matar Tagmé Na Waié.
Com a morte de “Nino”, a Guiné-Bissau e a sub-região africana “perderam um líder”, defendeu Conduto de Pina que vê no ex-Presidente “alguém que conhecia muito bem os vários grupos étnicos” do país.