Por LUSA/RTP
Os advogados da empresária italiana detida na Guiné-Bissau, por alegada participação no fogo posto numa mina de exploração de areias pesadas, relataram à Lusa dificuldades junto da polícia para falar com a sua cliente.
A empresária, que atua no ramo hoteleiro, está detida na 2.ª Esquadra de Bissau, desde sábado passado, após ter sido detida, com um grupo de 15 pessoas, na sua maioria mulheres, na estância balnear de Varela, onde se encontra a mina de areias pesadas.
Os advogados guineenses que a defendem explicaram à Lusa que tentaram entrar em contacto com a empresária, mas não receberam autorização e o Comissariado da Polícia de Ordem Pública (POP) não lhes deu qualquer justificação.
Os advogados disseram que, a seguir, tentaram entregar um requerimento de pedido de ‘habeas corpus’ ao Ministério do Interior, mas também não foram atendidos. O documento deveria ser encaminhado para o tribunal.
A Lusa está a tentar obter uma reação do Ministério do Interior, mas ainda não teve sucesso.
A empresária italiana foi detida, na passada sexta-feira, pela Guarda Nacional guineense, por alegado envolvimento no fogo posto na mina de exploração de areias pesadas na aldeia de Nhinquin, em Varela, a 170 quilómetros de Bissau.
No mesmo dia foi transferida para um quartel militar na vila de Ingoré e, no dia seguinte, sábado, e por ordens do ministro do Interior, Botche Candé, foi levada para Bissau.
“As autoridades querem saber se a empresária teve algum envolvimento com o fogo posto nas máquinas da empresa chinesa” que explora as areias pesadas em Varela, explicaram à Lusa outras fontes judiciais.
A Guarda Nacional alega ter indicações “de uma reunião” ocorrida recentemente entre as mulheres de Varela, na qual a empresária italiana teria participado, disseram fontes da corporação.
Do grupo de pessoas detidas com a empresária, encontram-se, pelo menos, dois régulos (autoridades tradicionais), um de Nhinquin e outro de um povoado próximo, disseram as mesmas fontes.
Fontes contactadas pela Lusa em Varela afirmaram que a empresária “é alguém que apoia muito as mulheres de Varela” nas suas atividades de produção de alimentos e pequeno comércio.
Na sexta-feira, um grupo de mulheres de Varela ateou fogo às máquinas da empresa chinesa GMG Mininig SARL como protesto pela exploração das areias pesadas na comunidade de Nhinquin.
Desde o início da exploração das areias pesadas naquela comunidade, em meados dos anos 2000, a população, particularmente as mulheres de Nhinquin, contestou o projeto.
A população acusa, primeiro, a empresa russa Poto Sarl, que detinha a licença de exploração, e, atualmente, a empresa chinesa, de incumprimento de promessas de benfeitorias a favor da comunidade, nomeadamente construção de escola, estrada, fontanários e hospital.
As mulheres nunca aceitaram a exploração da mina de areias pesadas em Nhinquin por, alegadamente, se situar numa “zona sagrada” onde fazem os rituais da aldeia.
Estudos do Governo guineense indicam que na aldeia de Nhinquin existe uma mina de areias pesadas com um potencial de 440 mil toneladas das areias pesadas, das quais, após extração, podem ser aproveitadas o equivalente a 119 mil toneladas de minérios como ilmenite, zircão e rutilo.
Esses minérios são usados nas indústrias metalúrgica e aeronáutica, assim como na indústria nuclear.