Por LUSA
A Associação Cabo-verdiana de Pessoas com Deficiência (ACD) está a procurar parceiros para uma conferência com quadros nacionais e da diáspora que ultrapassaram barreiras e que inspirem medidas inclusivas, disse à Lusa o líder do organismo.
“O objetivo é trazer para o mesmo espaço as pessoas com deficiência que são quadros” de empresas e instituições e levá-los a refletir: “como é que nós, que ultrapassámos as dificuldades, podemos através da nossas redes de contactos e conhecimentos fazer com que mais pessoas alcancem” o mesmo patamar, referiu Bernardino Gonçalves, presidente da ACD.
Apesar dos passos que o país tem dado e de existirem estratégias para a inclusão, a nível público, a mentalidade prevalecente continua a encarar a oferta de emprego como um gesto de caridade e não como um direito, explicou, fazendo do acesso ao mercado de trabalho um dos principais problemas de quem tem algum tipo de deficiência em Cabo Verde.
“Este espaço que queremos criar pode ser uma fonte de inspiração. Nós já falámos com os nossos membros” para mobilizarem quadros e a ideia também já foi transmitida “à comissão organizadora das celebrações dos 50 anos de independência” do país, que se assinalam ao longo deste ano.
Mas a realização da conferência “é possível tanto nesse contexto dos 50 anos, como noutro”, referiu Bernardino Gonçalves, indicando que o importante é avançar.
“Hoje, felizmente, com a tecnologia, é mais fácil encontrar quem se procura”, disse, após uma recente passagem pela Europa.
O líder da ACD encontrou-se com um cabo-verdiano que já soma 20 anos de experiência no trabalho com deficiências em França e na Bélgica, alguém que “pode estar num nível mais avançado em vários aspetos e ter conhecimentos muito importantes para Cabo Verde”.
“Por exemplo, somos um país insular, mas as pessoas com deficiência têm acesso ao mar? Existem carrinhos de rodas (adaptados) que permitem chegar ao mar em segurança e este cabo-verdiano, em França, trabalha com isso e está cheio de vontade de colaborar connosco”, apontou, para indicar um lado mais prático.
Num âmbito mais abrangente, um espaço que reúna pessoas com deficiência que são quadros de empresas e organizações “pode oferecer um contributo de qualidade na promoção e defesa dos interesses de inclusão”, ou seja, ser um órgão com conhecimento válido que permita aos decisores estar “um passo à frente”.
A ACD é uma entre uma dúzia de associações que nas diferentes ilhas de Cabo Vede lidam com pessoas com deficiência e Bernardino Gonçalves completou o primeiro ano de mandato à frente da organização.
A direção pretende dar uma nova dinâmica à ACD que já somou centenas de associados ao longo da história, lida com inúmeras famílias, mas conta apenas com algumas dezenas na gestão quotidiana.
“É como se o fogo se tivesse apagado, mas queremos voltar a pôr a água a ferver”, disse, numa alusão aos planos para promover atividades e trabalho de grupo com as associações congéneres: “precisamos de estar mais juntos e criar um bloco mais forte”, disse.
“Nós temos uma estrutura legal muito boa em Cabo Verde, desde a Constituição” à ratificação da convenção das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com deficiência, incluindo a recente estratégia de inclusão.
“É preciso continuar a trabalhar para que estes mecanismos e vontades sejam implementados”, disse, olhando, por exemplo, para o tormento que são as acessibilidade em transportes públicos na capital, Praia.
A aposta em serviços de reabilitação, porque a deficiência física pode bater à porta de qualquer pessoa, em caso de sinistro, e a adaptação da lei para permitir acesso a cuidadores, durante mais tempo, são outros aspetos na ordem do dia.
Um outro, menos abordado, diz respeito à necessidade de reforçar a autoconfiança de muitos portadores de deficiência e o presidente da ACD acredita que a conferência de quadros poderá ser fonte de motivação.
Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes a 2021, apontam para cerca de 47 mil pessoas com deficiência no arquipélago, sendo quase 62% mulheres e 38% homens.
Apenas 35% está empregada e a taxa de inatividade entre a população com deficiência é de 62%.