Por LUSA
O representante residente do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Cabo Verde disse que o Estado precisa de continuar reformas para enfrentar uma menor taxa de investimento no país e limitações impostas pela saída de população para o estrangeiro.
“No futuro, é importante que o Governo continue a fazer reformas que aumentem a produtividade da economia, porque isso vai ser o principal motor de crescimento”, num contexto em que a taxa de investimento (como percentagem do Produto Interno Bruto) tem descido, “uma queda que não é nova”, mas antes “uma tendência de há uns anos”, referiu Rodrigo Garcia-Verdu, em entrevista à agência Lusa.
Por outro lado, “o potencial de crescimento pode ver-se limitado pela emigração, que diminui a capacidade produtiva da economia”, disse o economista mexicano, primeiro representante residente do FMI em Cabo Verde, onde está desde agosto.
Neste cenário, as reformas, que “são sempre importantes”, são tanto mais “fundamentais” em Cabo Verde, de maneira a “compensar o efeito negativo de menor taxa de investimento e da emigração”.
Rodrigo Garcia-Verdu disse que as medidas devem incidir na eliminação de “constrangimentos nos diferentes setores” de atividade, matéria de trabalho de parceiros como Banco Mundial ou Banco Africano de Desenvolvimento, e que nalguns casos consistem em falta de infraestruturas, noutros residem em procedimentos inadequados.
Em janeiro de 2024, o relatório do FMI que acompanhará o acesso ao novo Fundo Fiduciário para a Resiliência e Sustentabilidade (RST, na sigla inglesa) deverá dar pistas sobre recomendações específicas.
“A emigração é uma bênção mista”, disse o representante do fundo na entrevista à Lusa — Cabo Verde tem 500 mil habitantes e o triplo na diáspora.
“Contribui para a economia através das remessas e formação de capital humano no exterior, mas também faz com que esse potencial populacional deixe de estar presente no país”, considerou.
No que respeita ao setor empresarial do Estado, “o Governo tem feito importantes avanços na transparência do setor e, “agora, vem o passo mais difícil: uma vez que temos indicadores”, é preciso “insistir no cumprimento das metas, numa economia que já não tem a dificuldade dos choques externos”, da pandemia e do preço de matérias-primas, referiu.
Para aquele responsável, “é um momento em que o Governo pode esperar melhores resultados”, assinalando que o relatório de 2022 da Unidade de Acompanhamento do SEE (UASE) “já dá conta de avanços, mas os riscos continuam aí” e diminuirão se o setor tiver “melhor desempenho”.
O Governo tem uma carteira de privatizações por avançar, processo que o FMI também segue, defendendo que haja regulação, sem a qual não há garantia de que os setores privatizados “funcionem de forma eficiente” — apontando, por exemplo, o risco de monopólios.
“Se uma privatização não for acompanhada de regulação apropriada, pode também materializar-se um risco fiscal”, referiu.
No caso, o representante residente do FMI considerou que Cabo Verde “tem muita capacidade para regular, de forma certa, as empresas privatizadas”.
O FMI tem uma “visão próxima da do Governo” quanto à evolução da economia em 2024: depois do choque pandémico e da grande recuperação que se seguiu (crescimento do PIB de 17,7% em 2022), antevê-se um regresso “à normalidade”, sem grandes flutuações, disse.
O fundo prevê que Cabo Verde cresça 4,5% este ano, com uma perspetiva de curto-médio prazo favorável.
O Governo cabo-verdiano aponta para um avanço de 5,7% em 2023 e de 4,7% em 2024.