Por LUSA
A escassez de água na vila da Santa Clara, sul de Angola, desde agosto passado, está a levar cidadãos a caminharem longas distâncias até à fronteira com a Namíbia, onde madrugam para conseguirem água para consumo.
Na fronteira terrestre entre Angola e a Namíbia, marcada pelos postos de Santa Clara (Angola) e Oshikango (Namíbia) a carência de água é confirmada pela circulação de mulheres e crianças com recipientes à procura do líquido precioso.
Entre dezenas de pessoas, ávidas pela água em falta desde agosto passado naquela vila angolana, afeta ao município de Namacunde, província do Cunene, está Maria Cambinda, 16 anos, que disse ter faltado à escola por falta de água.
“A falta de água aqui já vai fazer dois meses, não temos água, até na escola não estamos a ir, não tem água, e estamos apenas a beber água da cicimba (poço)”, disse a estudante.
Segundo Maria Cambinda, a falta de água é do conhecimento das autoridades municipais e sempre que jorra em alguns bairros, um balde de 10 litros é vendido entre 200 kwanzas (0,22 euros) e 250 kwanzas (0,28 euros) contra os anteriores 50 kwanzas (0,05 euros).
“Há ainda um sítio onde está a jorrar água, mas a fila é enorme e muitos pessoas não conseguem”, lamentou, apontando para uma zona onde uma fila enorme de pessoas aguardava a sua vez para poder conseguir um bidon de água de 20 litros.
Com uma pequena estrada a separar o solo angolano e o namibiano, é ali onde muitas pessoas encontraram uma fonte de água para o seu consumo, o que leva muitas a madrugarem para conseguirem o escasso líquido.
“Cheguei aqui as 05:00 da manhã em busca de água, estamos a vir de bairros distantes para chegar aqui nesta zona da fronteira”, disse Georgina Satundu, que, impaciente pela espera da água que ali jorrava a conta-gotas, aguardava a sua vez.
“O povo da Santa Clara está a sofrer, estamos sem água desde agosto, aqui nesta torneira é grátis, mas também não tem pressão”, salientou a doméstica.
Juliana Atusheni, estudante de 23 anos, lamentou a falta de água naquela região do sul de Angola, referindo que o Presidente angolano, João Lourenço, contemplou apenas a localidade com o dinheiro do Kwenda (programa de transferências monetárias).
“João Lourenço só nos deu dinheiro do Kwenda e não nos deu água (…) quando há locais com água temos sempre discussões entre as pessoas para se conseguir um pouco”, realçou.
Namacunde, Cuvelai, Ombandja, Curoca, Cuanhama e Cahama são os seis municípios que compõem a província do Cunene, que nos últimos anos tem sido bastante afetada pela seca, com as autoridades centrais e locais a desenvolverem projetos para responder à escassez.
A falta de água em Santa Clara foi também confirmada por um médico russo, em funções no Centro de Saúde local, que deu nota do aumento de casos de doenças.
“Aqui tem muita tosse, muita bronquite, muita gripe, o clima é seco, está calor, às vezes água é difícil, mas trabalhamos e atendemos todos que nos procuram aqui no centro”, afirmou o médico interno, há 15 anos a trabalhar em Angola.
À Lusa, a administradora municipal de Namacunde, Cristina Naheme Omuno, reconheceu a escassez, indicando que o “esforço está a ser feito para que pouco a pouco se minimize a situação da falta de água”.
“Neste preciso momento faço referência às ações já concluídas no âmbito do PIIM (Plano Integrado de Intervenção nos Municípios), não em todas as localidades, mas em alguns pontos do município e projetos futuros também trarão e vão abranger outras localidades”, assegurou.
Namacunde, região considerada endémica pelo Verme da Guiné ou dracunculose, segundo a Organização Mundial da Saúde, conta com uma população estimada de cerca de 150 mil habitantes.