Por LUSA
Com a Arábia Saudita a ponderar vender petróleo à China usando a moeda chinesa, Angola poderá sair prejudicada, alertou hoje o presidente da Fundação para a Paz e Desenvolvimento das Nações Unidas.
Num seminário a assinalar o 10.º aniversário da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’, em Hong Kong, Daniel Fung Wah-kin disse que, no passado, a China foi “obrigada a comprar petróleo de Angola porque a Arábia Saudita era praticamente um monopólio dos Estados Unidos”.
Angola tornou-se, em 2010, o principal fornecedor de petróleo da China e, de acordo com uma base de dados da ONU, o pico das exportações de crude angolano para o mercado chinês foi atingido em 2012: 33,6 mil milhões de dólares (31,7 mil milhões de euros).
No entanto, na primeira metade de 2023, Angola foi apenas o nono principal fornecedor de petróleo da China, numa lista liderada pela Rússia, Arábia Saudita e Brasil, de acordo com dados da Administração Geral das Alfândegas chinesa.
Daniel Fung disse que o papel da Arábia Saudita como exportador de petróleo para a China poderá sair reforçado, caso decida vender crude para o mercado chinês usando o renmimbi.
No ano passado, o ministro das Finanças saudita, Mohammed al-Jadaan, disse que o reino estava a ponderar vender parte do petróleo para a China em renmimbi, apesar da sua moeda — o rial — estar ligada ao dólar norte-americano.
Em dezembro, o Presidente chinês, Xi Jinping, disse numa cimeira com líderes do Golfo Pérsico, na Arábia Saudita, que a China ia procurar adquirir petróleo e gás natural da região usando o renmimbi.
Para Daniel Fung, a aquisição de petróleo da Arábia Saudita daria “um enorme impulso à internacionalização” da moeda chinesa, dando como outros exemplos os Emirados Árabes Unidos e o Brasil.
Em março, a China concluiu a primeira compra de combustíveis fósseis aos Emirados Árabes Unidos com renmimbis, tendo adquirido 65 mil toneladas de gás natural liquefeito.
Em abril, a sucursal no Brasil do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) processou a primeira transação transfronteiriça em moeda chinesa, dois meses depois dos bancos centrais dos dois países terem assinado um acordo de compensação do renmimbi.
As exportações brasileiras de petróleo para a China cresceram 49% na primeira metade de 2023, em comparação com a média do ano passado, de acordo com dados da Administração Geral das Alfândegas chinesa.
Em abril, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, atacou, em Xangai, o domínio do dólar como moeda de reserva mundial e apelou para o uso de outras divisas na relação comercial entre Brasil e China.
A China realizou em março, pela primeira vez, mais transações transfronteiriças com a sua moeda do que com o dólar.