Por LUSA
O governador do banco central angolano negou que haja uma gestão administrativa da taxa de câmbio, reafirmando que continua flutuante, com as operações a serem realizadas na plataforma da Bloomberg e com os mesmos intervenientes.
Manuel Tiago Dias disse que as operações continuam a ser feitas entre as companhias petrolíferas e diamantíferas, o banco central, mas, “infelizmente”, sem o tesouro nacional, “ator importante”.
Segundo o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), o tesouro esteve regularmente até maio último, altura em que se retirou, tendo com isso muitos bancos que realizavam consigo as transações ficado com acesso limitado às divisas.
“Mas temos alguns bancos já com uma relação antiga com as empresas, quer do setor petrolífero quer do setor diamantífero, que continuam a adquirir divisas e o que temos estado a observar é que as divisas adquiridas ao nível do sistema no seu todo, nos últimos meses, tendem a aumentar, razão pela qual observa-se a nível do mercado formal a estabilidade da taxa de câmbio”, explicou.
O governador do BNA reafirmou que a taxa de câmbio é flutuante, dando o exemplo do que ocorreu entre os meses de maio e junho.
Manuel Tiago Dias sublinhou que, no passado, a redução da oferta ao nível do mercado era de cerca de 40%, comparativamente aos dados mais recentes, de janeiro a outubro deste ano, quando houve uma redução menor, significando que nos últimos meses se tem estado a registar algum aumento da oferta de moeda.
“É obvio que, na perspetiva dos bancos comerciais, vão ouvir opiniões contraditórias, porque há uns que, em função da relação tradicional, de confiança, que já tinham com as companhias continuam a adquirir divisas em montantes relativamente altos e há outros que, infelizmente, compram montantes muito mais reduzidos”, disse.
De uma maneira geral, prosseguiu Manuel Tiago Dias, as disponibilidades em moeda estrangeira reduziram, lembrando que influenciou a redução em 13 mil milhões de dólares (11,9 mil milhões de euros) das receitas de exportação.
“O contexto mudou significativamente e todos nós temos que nos habituar a este novo contexto”, frisou.
O regulador reforçou que a sua intervenção na gestão cambial ocorre quando é constatada alguma violação das regras estabelecidas e que são do conhecimento de todos os participantes.
“Por exemplo, nós constatamos que havia comportamentos que eram reprováveis e, porque inexplicáveis, na nossa perspetiva, quando uma instituição num espaço de menos de três minutos faz ‘ bids’ (lances) com três taxas, que saem totalmente daquilo que é normal, obviamente, aí há intervenção do Banco Nacional de Angola para chamar esta instituição à razão”, referiu Manuel Tiago Dias.
O responsável disse que o banco central intervém de igual modo quando há um negócio fechado entre duas instituições e uma das partes, unilateralmente, entende que não deve dar sequência ao negócio, constituindo isto uma das violações das regras de mercado.
Relativamente ao diferencial entre a taxa de câmbio oficial e no paralelo, o governador do BNA explicou que no mercado informal ocorrem essencialmente transações para compra a venda de notas, diferente do que acontece no mercado formal.
“É óbvio que, havendo a possibilidade de as transações serem realizadas a nível do mercado formal, há escassez de notas, porque a importação de notas por parte dos bancos comerciais tende a reduzir cada vez mais”, realçou Manuel Tiago Dias, salientando que ainda há circulação de notas, provenientes de cidadãos com salários em divisas, de transações realizadas em moedas estrangeiras e de operadores económicos com depósitos no estrangeiro.