Por LUSA
A professora guineense Artemisa Candé Monteiro, a lecionar em universidades brasileiras, tem dúvidas se o “pai” da independência da Guiné-Bissau, Amílcar Cabral, “é devidamente estudado” no país, como acontece noutras partes do mundo.
Professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Candé Monteiro comentou para a Lusa a forma como Amílcar Cabral é estudado nas academias de países como Brasil, Portugal ou Cabo Verde.
“Eu tenho as minhas dúvidas se as universidades ou faculdades na Guiné-Bissau colocam Amílcar Cabral como referência de estudos”, observou a agora uma das pró-reitoras da UNILAB no estado brasileiro do Ceará.
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com ênfase em Estudos Africanos, Monteiro vê Cabral a ser “mais referenciado” na Guiné-Bissau enquanto “articulador político”.
“Na política ouvimos muito a menção de Amílcar Cabral, mas as práticas de Amílcar Cabral estão bem distantes, as teorias de Amílcar Cabral, os seus ensinamentos, estão bem distantes da prática da vida política na Guiné-Bissau atualmente”, defendeu a professora guineense.
A viver no Brasil há mais de duas décadas, Artemisa Candé Monteiro regozija-se ao afirmar que Cabral “é lembrado e estudado” nas universidades brasileiras, onde, disse, existem “vários temas de mestrado” sobre o pensamento e as teorias do líder guineense.
Em Portugal, reforçou, Cabral esteve na origem de um prémio ao também professor guineense Julião Soares Sousa, da Universidade de Coimbra.
Artemisa Candé Monteiro lamentou que assim não seja na Guiné-Bissau, onde, lembrou, a Universidade Amílcar Cabral, a única universidade pública do país, ainda não está a funcionar em pleno, 50 anos após a independência do país.
Em março de 2022 Candé Monteiro foi nomeada pelo Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, para coordenar uma equipa de investigadores incumbidos de escrever a história da luta pela independência.
Entre vários protagonistas ainda em vida e documentos a consultar, a equipa de Artemisa Monteiro tem registado testemunhos e recolhido escritos de Amílcar Cabral, atualmente espalhados por vários cantos do mundo.
Dos Estados Unidos da América, ao Brasil, passando por universidades africanas, Cabral “é encontrado em todas as fontes” quando o assunto é a contribuição para a luta pela independência de países africanos de língua portuguesa, destacou.
Amílcar Cabral tem sido homenageado na Guiné-Bissau e noutros países do mundo por ocasião do seu centenário que se comemora a 12 de setembro próximo.