Por LUSA
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, convocou o Conselho de Estado para hoje, às 10:45 locais (a mesma hora em Lisboa), na sequência dos confrontos armados de sexta-feira, que classificou como uma “tentativa de golpe de Estado”.
No sábado, o chefe de Estado tinha já anunciado a criação de uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades, à chegada ao aeroporto de Bissau, após uma semana de ausência do país em visitas oficiais a Roma, Timor-Leste e Dubai, para participar na Cimeira do Clima COP28.
“Esta tentativa de golpe de Estado terá consequências pesadas”, afirmou então.
Em declarações aos jornalistas, o Presidente guineense recusou-se a falar em português e referiu-se apenas às tensões dos últimos dias no país, desde a prisão preventiva do ministro das Finanças, Suleimane Seide, e do secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro, decretada na quinta-feira à noite, aos confrontos armados entre a Guarda Presidencial e a Guarda Nacional, na madrugada e manhã de sexta-feira.
“O teatro acabou”, insistiu, frisando que “toda a gente que está implicada nesta tentativa vai pagar caro” e que “a Guiné-Bissau não pode viver mais em teatro”.
Sissoco Embaló disse ainda que “há indícios”, incluindo escutas telefónicas, de que “esse golpe” não é de agora, que “foi preparado antes de 16 de novembro”, o dia da comemoração oficial dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau, organizada pela Presidência da República.
O chefe de Estado considera que o comandante da Guarda Nacional, Vítor Tchongo, que foi preso na sexta-feira, agiu “a mando de alguém” quando foi às celas da Polícia Judiciária retirar os dois governantes para os levar para o quartel.
“Tchongo não é maluco até ao ponto de ir rebentar as instalações da Polícia Judiciária”, afirmou.
O Presidente guineense insistiu que “não se faz golpe ao presidente da Assembleia, nem ao primeiro-ministro, só se faz ao chefe de Estado, que é comandante supremo das Forças Armadas”.
Recordou ainda a tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2022 para vincar que já tinha dito àqueles que consideraram que “fizeram teatro” nessa ocasião e “disseram que era inventona”, que não voltaria a repetir-se.
Sissoco evocou a frase do antigo Presidente guineense Kumba Yalá, “Vivemos em paz ou morremos todos”, e disse “é desta vez”.
O Presidente da República defendeu que “o império da lei tem de funcionar na Guiné-Bissau” e disse que se a Procuradoria-Geral da República deixar de ser o advogado do Estado, ele próprio está “disponível para fazer isso” e evitar que o país caia “num colapso”.
“Se eu vou ser sacrificado é desta vez”, afirmou.
Sissoco Embaló afirmou que “todos sabem quem são” os autores do “golpe”, referindo a seguir que “não há casa de ninguém atacada”, numa alusão à denúncia do presidente da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, de que a residência tinha sido cercada e alvejada, com o próprio em casa.
O Presidente convidou os jornalistas a irem “a casa das pessoas ver se foram atacadas, se uma única casa” foi atacada.
À pergunta sobre o alegado envolvimento do Presidente da República nos acontecimentos de sexta-feira, respondeu: “Envolvimento como? Será que vou dar golpe a mim próprio?”
Sobre o envolvimento das tropas da Presidência nos confrontos, defendeu que “um dos papéis do batalhão da Presidência da República é manter e coadjuvar o Estado-Maior General, é assim que funciona”.
“O batalhão da Presidência da República, no nosso sistema ou no estatuto de Defesa Nacional, é para proteger o Presidente República”, frisou.
Na madrugada e na manhã de sexta-feira, o batalhão da Guarda Presidencial e a Polícia Militar atacaram o comando da Guarda Nacional para de lá retirar o ministro da Economia e Finanças, Suleimane Seidi, e o secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro.
Os dois governantes tinham sido para lá transportados pela Guarda Nacional, que os retirou das celas da Polícia Judiciária, onde estavam em prisão preventiva por ordens do Ministério Público que os investiga no âmbito de um processo de pagamento de dívidas a 11 empresas.
Do ataque ao quartel da Guarda Nacional, resultaram dois mortos, a retirada dos dois governantes, que foram novamente conduzidos às celas da PJ, e ainda a detenção do comandante da corporação, coronel Vítor Tchongo, e mais alguns elementos.