Por LUSA
Estudiosos cabo-verdianos e uma representante na diáspora sugeriram hoje a publicação de um livro, filme ou tratamento de arquivos que retratem o país e sua memória, como atividades para celebrar os 50 anos da Independência, em 2025.
“Seria bom que se fizesse uma obra, como um livro ou um filme, para retratar o que aconteceu durante aquela altura e o que se tem passado “, disse à Lusa a presidente da Associação Cabo-verdiana de Lisboa, Dulcineia Sousa, depois de o Governo ter anunciado uma comissão para preparar um programa.
A dirigente defendeu que “é preciso pensar e agir fora da caixa”.
A título de exemplo, sugeriu ações com a presença de colegas de Amílcar Cabral, histórico líder da luta pela libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
“Era fundamental, porque poderiam dar uma perspetiva do que aconteceu naquela época, das ideias, comparar com o que temos agora e saber se se cumpriu ou não a independência”, sublinhou.
A presidente da Associação Cabo-verdiana de Lisboa considerou como “uma medida bastante positiva” o anúncio do Governo, de criação de uma comissão para as comemorações no país e na diáspora.
A historiadora cabo-verdiana Ângela Coutinho também classificou a medida como “uma estratégia acertada” e propõe que a celebração vá além das cerimónias e discursos da praxe.
“Tenho uma preocupação muito grande, trabalhei em Cabo Verde há 20 anos e o que tenho notado é que os arquivos referentes à construção do Estado do período pós-independência não estão devidamente tratados e salvaguardados”, apontou.
Neste sentido, manifestou vontade de se criar uma subcomissão, com historiadores, e que se faça uma proposta de levantamento desses arquivos em Cabo Verde, uma avaliação do estado de conservação e um projeto para o seu tratamento e disponibilização.
“Também desconheço um projeto de pesquisa, levantamento sistemático, de depoimentos desses que foram os fundadores do Estado de Cabo Verde. Muitas pessoas já faleceram, mas pode-se e deve-se recorrer a entrevistas ou propor a escrita de memórias das pessoas que montaram esse sistema, todo o Estado de Cabo Verde”, referiu.
Ângela Coutinho considerou que a “independência é uma herança” e que para refletir sobre algo que é herdado, há necessidade de, antes de mais, ser compreendida.
Assim, reforçou a importância de uma subcomissão de historiadores e de uma análise histórica, científica, numa ação que não se restrinja apenas à divulgação de memórias de alguns.
“Essas memórias têm de ser divulgadas, publicitadas, mas nós precisamos de uma abordagem de história científica e, assim, a maioria dos cabo-verdianos poderá fazer a sua avaliação acerca desse ponto, se vale ou não a pena comemorar”, concluiu.
O membro do conselho de administração da Fundação Amílcar Cabral Adão Rocha considerou que a decisão do Governo em comemorar os 50 anos da independência nacional é “uma boa medida, por ser a principal conquista da nação cabo-verdiana”.
“Foi um processo de conquista, que teve como principal mentor e arquiteto o líder, o nosso patrono, Amílcar Cabral e que teve a participação de muitos cabo-verdianos”, considerou.
Igualmente ouvido pela Lusa, o sociólogo cabo-verdiano Henrique Varela defendeu que a celebração seja “um momento de unir toda a nação”.
O Governo de Cabo Verde anunciou, no final de fevereiro, que os 50 anos da independência nacional, em 2025, devem ser celebrados “de forma distinta”, criando “uma comissão organizadora que vai fazer as articulações com os vários departamentos e órgãos de soberania”, para delinear o programa no arquipélago e na diáspora.
Cabo Verde tornou-se independente de Portugal a 05 de julho de 1975, na sequência da queda do regime ditatorial português do Estado Novo, a 25 de Abril de 1974, que ditou também o fim do regime colonial ultramarino.