Por LUSA
A coligação PAI-Terra Ranka, que ganhou as últimas eleições na Guiné-Bissau com maioria absoluta, considerou hoje que o problema do país “são os assaltantes do poder” que têm impedido os vencedores de governar.
A coligação liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) deu hoje uma conferência de imprensa para fazer um ponto da situação política do país, passado mais de um mês da decisão do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, de dissolver o parlamento e substituir o Governo.
“Já ganhámos as eleições sete vezes e não nos deixam governar”, afirmou o porta-voz da coligação, Muniro Conte, apresentado também como porta-voz “do Governo legítimo”, já que exercia a mesma função no Governo da coligação PAI-Terra Ranka deposto pelo Presidente.
Para a coligação vencedora das últimas legislativas, “o problema da Guiné-Bissau são os assaltantes do poder que não respeitam o veredicto das urnas, a palavra do povo nas urnas”.
O porta-voz leu um comunicado e respondeu a questões dos jornalistas para enfatizar que o presidente da coligação, do PAIGC e da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, ganhou, pela terceira vez, em junho de 2023, e mais uma vez a coligação que representa está impedida de governar, com decisão presidencial, de 04 de dezembro de 2023, da dissolução do parlamento, apesar de a Constituição não o permitir nos 12 meses posteriores ao ato eleitoral.
“Nunca nos deixam governar. Já ganhámos sete eleições e não nos deixam governar”, insistiu, especificando que três eleições consecutivas e três vitórias foram coincidentes com a liderança de Domingos Simões Pereira.
Muniro Conte acrescentou que na Guiné-Bissau “há partidos que não ganharam o mesmo número de eleições que o PAIGC e têm mais anos de governação, sem ganhar as eleições”.
“Vocês acham que isto é justo”, questionou.
O porta-voz da coligação enfatizou que esta mensagem é um “recado para os adversários, mas também para aqueles que fazem a democracia interna do partido de uma forma deselegante”.
Muniro Conte frisou que “o PAIGC ganha nas urnas e recusa a violência” para se referir à marcha convocada pela coligação para 08 de janeiro pela reposição da ordem constitucional.
Questionado pelos jornalistas sobre a falta de adesão, respondeu que “não houve fracasso” e que a iniciativa “foi publicitada em todos os órgãos da imprensa internacional, até organizações como a União Africana, CEDEAO, publicaram essa marcha nos seus sites”.
A coligação fala em repressão e lançamento de gás lacrimogéneo por parte das forças policiais que ocuparam as principais artérias da cidade de Bissau no dia da convocatória, com tanques e elementos fortemente armados.
A Lusa percorreu, durante as primeiras horas da manhã do dia 08, as artérias de Bissau e não encontrou manifestantes, o que o porta-voz da coligação justificou alegando que a marcha estava prevista para a Chapa de Bissau, mas foi utilizada a sede das Nações Unidas como um recurso por as polícias estarem “a espancar, a prender”.
“Aquela ideia (da mudança de local) foi brilhante porque agora as Nações Unidas, mesmo que fizessem vista grossa daquilo que está a acontecer na Guiné-Bissau, os incidentes que aconteceram na frente das instalações dão motivo para encararem os problemas da Guiné-Bissau como tal”, afirmou.
O PAIGC publicou, na página oficial do partido, um vídeo onde vê um aglomerado de pessoas, focos de fumo, sons aparentemente de disparos e elementos das forças policiais numa rua.
“Se calhar, se os manifestantes não tivessem sido reprimidos com gás lacrimogéneo, teríamos um público igual ao último dia da campanha da coligação PAI- Terra Ranka”, considerou Muniro Conte.
A marcha foi marcada para um dia em que o líder Domingos Simões Pereira se encontrava em Portugal, onde participou no congresso do Partido Socialista (PS).
“Esse é mais um bluff dos nossos adversários, que o presidente do PAIGC tem que estar aqui, basta dar orientações”, afirmou Muniro Conte, apontando que também o líder histórico Amílcar Cabral “nunca foi à frente na luta armada”.