Por LUSA
O Governo de Cabo Verde justificou hoje com “uma questão de coerência” a abstenção de terça-feira nas Nações Unidas, perante nova resolução a pedir um cessar-fogo no conflito Israel-Hamas.
“Por uma questão de coerência relativa à sua posição inicial, Cabo Verde votou favoravelmente as propostas de emenda apresentadas pelos EUA e pela Áustria”, mas que não foram integradas, pelo que Cabo Verde “votou abstenção”, lê-se num comunicado do Governo.
No documento refere-se que as emendas visavam incluir na resolução uma condenação aos ataques do Hamas contra Israel no dia 07 de outubro, apelar à libertação de reféns e à abertura de corredores humanitários.
“O texto da resolução submetida pelo grupo árabe não teve em consideração disposições relativas à condenação aos atos terroristas” do Hamas, assinalou o Governo cabo-verdiano.
O executivo “condena toda e qualquer forma de terrorismo”, “reconhece o direito de Israel se defender, observando o Direito Internacional Humanitário” e reconhece também “o direito do povo palestiniano de constituição do seu Estado”, referiu no comunicado de hoje.
“Dois Estados a viver em paz e segurança, lado a lado, esta é a solução que o Governo defende”, apontou, considerando “essencial que tudo seja feito para que a ajuda humanitária bilateral e multilateral continue a beneficiar os civis palestinianos”.
No caso, o executivo cabo-verdiano referiu que vai “continuar a facilitar o transporte de bens e equipamentos, concedendo prontamente autorizações de sobrevoo e aterragem a aeronaves empenhadas neste esforço”.
O projeto de resolução sobre Gaza, apresentado à Assembleia pelo Egito, e copatrocinado por cerca de 80 Estados-membros da ONU, incluindo Portugal, obteve na terça-feira 153 votos a favor, 10 contra e 23 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.
Cabo Verde já tinha optado pela abstenção perante o texto adotado pela Assembleia-Geral, no final de outubro, que obteve o apoio de 120 países e que apelava a uma trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada.
Na altura, a posição agudizou a crispação política em Cabo Verde, com o Presidente da República, José Maria Neves, a dizer que não compreendia a abstenção perante valores humanitários e acusando o Governo de agir sozinho em matérias de política externa, abeirando-se da “deslealdade constitucional” na relação com o chefe de Estado.