Por LUSA
Em Cabo Verde, 19 agentes de saúde pública percorrem todos os dias um conjunto de ruas pré-definidas da capital, Praia, equipados com fatos azuis de proteção especial, máscaras e bombas pulverizadoras para travar o mosquito portador de dengue.
“A pulverização intradomiciliária começou em maio. Depois, houve alguns casos confirmados de dengue”, que já chegaram a 32, no país, levando a um reforço “na luta anti-vetorial, para evitar a propagação”, explica António Veiga, um dos membros da equipa, enquanto inspeciona uma das casas a ser pulverizada no bairro de São Filipe.
Cabo Verde anunciou o ressurgimento da dengue, em 08 de novembro, sendo que o surto mais grave foi registado em 2009, com 21.000 casos e seis óbitos, todos na ilha de Santiago.
Febre, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, a par de inflamações na pele, fazem parte dos sintomas da infeção que, nos casos mais graves, pode evoluir para dengue hemorrágica e, no limite, causar a morte.
Cabo Verde tem feito bandeira, nos últimos anos, do sucesso alcançado na erradicação de doenças transmitidas por mosquitos, nomeadamente, a malária (também designada de paludismo), que ainda é uma das principais causas de morte em muitos países frágeis, ao passo que Cabo Verde está a finalizar, com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a certificação como território livre da doença.
A ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, já disse que os casos de dengue não podem ser relacionados com o certificado de erradicação da malária, mas, com 32 casos confirmados e muitos outros suspeitos (a carecer de análise laboratorial), as autoridades sanitárias intensificaram as ações no terreno.
Os 19 agentes estão subdivididos em três grupos e trabalham das 08:00 às 15:00 (das 09:00 às 16:00 em Lisboa), sobretudo nos locais com mais casos suspeitos identificados.
Ao longe, fazem lembrar o pessoal médico nos cenários mais adversos durante a pandemia de covid-19: usam fatos de proteção (quase) integral e os que carregam as botijas de inseticida (ligada aos pulverizadores manuais), usam máscaras na cara.
Um grupo visita, em média, 100 casas por dia, cada qual durante cinco a sete minutos.
Apresentam-se, informam todos os residentes que “têm de sair” e começa a pulverização, disparada contra as paredes interiores da casa e plantas no exterior, em redor da habitação.
Fazem ainda uma inspeção, em busca de tanques mal cobertos, latas, garrafas vazias ou vasos, qualquer objeto que possa conservar água durante muito tempo e que, inadvertidamente, sirva para incubar mosquitos.
Quando não é possível drenar as águas estagnadas, misturam-se pequenos peixes (gambusia ou peixe-mosquito) ou até gasóleo para evitar que os mosquitos ali se reproduzam, refere António Veiga.
As construções inacabadas e abandonadas, que proliferam pela capital cabo-verdiana, são um dos principais problemas para estas equipas.
Há tanques abertos, fossas mal vedadas e dentro das próprias casas acumulam-se mosquitos, de tal forma que, “sempre que for necessário arrombar uma porta, entramos ou fazemos ‘assalto’ para evitar a propagação de mosquito”, relata.
Ao lado dos pulverizadores, nesta caminhada pela cidade, alguns elementos encarregam-se de informar os residentes sobre medidas de prevenção.
Gaudêncio Barreto, morador em São Filipe, já não tem dúvidas de como é “muito importante” manter a rua limpa e eliminar as águas paradas para evitar os mosquitos.
“Todos temos de colaborar para evitar estas doenças”, referiu.
Elisângelo Correia, outro morador do bairro, aplaude o trabalho da equipa e confessa que, ao vê-los em ação, se sente mais aliviado: há alguns dias que tem sintomas de dengue e, apesar de já ter feito um teste, com resultado negativo, vai repeti-lo para despistar a doença por completo.