Por LUSA
O pintor cabo-verdiano Tchalé Figueira inaugura sexta-feira uma exposição em Lisboa sobre o lado atroz do colonialismo em África, onde a herança desta dominação se manifesta ainda hoje, como nos naufrágios no Mediterrâneo, também tema desta mostra.
“Breve História Colonial e Outras Memórias” é o tema da exposição que estará patente no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em Lisboa, até dia 12 de janeiro, e que conta com 18 telas de grandes dimensões, algumas das quais remetem para figuras do colonialismo português, como Salazar ou os soldados da guerra colonial.
“É uma forma de mostrar a parte feia do que foi o colonialismo, uma coisa atroz, que causou muitos traumas em todo o continente africano. É esta a mensagem, mas as obras falam por si”, disse à agência Lusa.
E adiantou: “Vale a pena, de vez em quando, atiçar estas fogueiras para que as pessoas possam relembrar, porque não podemos esquecer o nosso passado, o bom e o mau”.
A obra de Tchalé, que é também escritor, não se limita ao colonialismo português, ocupando-se também de outros domínios, como a colonização da Bélgica pelo “terrível Leopoldo II, que matou mais africanos no Congo do que Adolfo Hitler judeus”.
Em telas gigantes, com “figuras enormes e de uma forma grotesca, com dentes de tubarão”, o pintor conta a história do colonialismo e dos “carrascos dos africanos”, que foram “verdadeiros assassinos”, apesar de alguns acabarem “condecorados”.
A obra que ilustra a informação promocional da exposição (“Berlim 1884/5 — cortaram o bolo”) apresenta uma mesa com o continente africano como um bolo, que foi partilhado pelos países que participaram na Conferência de Berlim, representados por cadeiras vazias.
“Resolveram cortar África em pedaços e cada um ficou com um pedaço (do bolo). É a história da África colonizada, em que muita coisa foi horrível. Povos foram separados, outros juntados. Foi uma grande catástrofe humana, como se o continente lhes pertencesse e não tivesse a sua própria história e meios”, observou.
Numa outra obra, o pintor apresenta um árabe com um turbante, lembrando que “os árabes também cometeram atrocidades com a escravatura” na África oriental.
O artista também aborda atrocidades atuais, como o naufrágio de migrantes, apresentando a obra “Mediterrâneo – cemitério de africanos” para chamar a atenção da “morte das pessoas afogadas e todo o mundo a olhar para o lado, porque infelizmente são os africanos que estão ali a morrer”.
“É uma herança que ainda estamos a pagar. É necessário que os próprios africanos tenham consciência disso e da sua história, para que possamos, com o tempo, evoluir e ser um continente cheio de prosperidade. A arte também serve para isso”, acrescentou.
Nesta mostra estarão ainda presentes três telas gigantes que compõem a obra “War is stupid” (“a guerra é estúpida”), que estavam na galeria “This is not a white cube”, uma galeria internacional de arte contemporânea sediada simultaneamente em Luanda, Angola, e Lisboa, Portugal.
“Estas três obras representam o pior da estupidez humana: A guerra”, disse.
Sobre a marca expressionista das suas telas, com cores fortes e imagens grotescas, o pintor esclareceu: “O mundo é feito de atrocidades. Eu não pinto coisas feias, eu pinto o mundo que é feito”.
“Não podemos melhorar o mundo, mas, se fizermos coisas boas neste mundo, somos um canário a menos”, disse Tchalé Figueira, nascido em Mindelo, Cabo Verde, em 1953.
Esta exposição no Centro Cultural Cabo Verde, em Lisboa, resulta ainda de uma parceria que envolveu a galeria “This is not a white cube” e a Embaixada de Cabo Verde em Portugal.