Por LUSA
O presidente da CAD, coligação que foi a primeira força política moçambicana a apoiar a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, rejeitou hoje qualquer envolvimento numa tentativa de golpe de Estado, antes de prestar declarações no Ministério Público.
“Manecas Daniel (presidente) e Justino Mondlane (porta-voz) nunca participaram em momento nenhum num ato de organizar um golpe de Estado, porque nem estivemos lá na preparação, quer da campanha eleitoral, quer em outras ações relacionadas às manifestações (pós-eleitorais)”, disse o líder da Coligação Aliança Democrática (CAD), em declarações aos jornalistas à porta da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Maputo, esta manhã, antes de prestar declarações.
Manecas Daniel disse não ter uma acusação formal do Ministério Público (MP) moçambicano sobre o crime de tentativa de golpe de Estado, mas o membro do seu partido, Justino Mondlane, que vai igualmente ser ouvido hoje, foi detido em 23 de abril, acusado do crime de “conspiração contra a segurança do Estado”.
No documento, assinado por uma juíza de direito da secção de instrução criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, as autoridades moçambicanas consideram que Justino Mondlane terá estado ligado a um grupo que “concertou para a prática de crimes contra o Estado, alteração violenta do Estado de Direito”.
No mandado de captura daquele período referia-se haver “indícios de um grupo de pessoas que, por meio da violência, tentam destruir, alterar ou subverter o Estado de Direito constitucionalmente estabelecido”.
Hoje, o presidente da CAD rejeitou qualquer participação numa eventual tentativa de golpe de Estado, acusando o partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), força que depois apoiou a candidatura de Mondlane, de envolvimento direto nas manifestações pós-eleitorais.
“Nós não estivemos lá. Admiramo-nos como é que somos solicitados, como se tivéssemos feito parte do processo de golpe de Estado por aí propalado”, disse Manecas Daniel, referindo estar “calmo” para as declarações junto do MP.
“Fomos excluídos, não participámos ativamente no processo (eleitoral), depositamos a candidatura do jovem Venâncio Mondlane a Presidência da República e achamos que o nosso pecado se calhar esteja aí”, acrescentou o presidente da CAD.
A CAD foi uma coligação que tentou apoiar a candidatura do político moçambicano Venâncio Mondlane há sensivelmente um ano – às eleições de 09 de outubro -, mas que foi rejeitada por alegadas irregularidades, tendo Mondlane, posteriormente, firmado um “acordo político” com o Podemos, um compromisso que foi anulado meses após as eleições por divergências entre as partes.
Nas listas da CAD, recusadas por alegadas irregularidades, Venâncio Mondlane concorria também como cabeça-de-lista às legislativas por Maputo, além da corrida presidencial.
Em março, o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo decretou também a prisão preventiva da responsável das finanças de Venâncio Mondlane, Glória Monteiro Nobre Chire, uma contabilista de 59 anos.
O MP moçambicano instaurou um total de 742 processos-crime, 31 dos quais envolvendo membros da polícia, ligados às manifestações que afetaram Moçambique nos últimos cinco meses, indicam dados anteriores da PGR.
Os processos visam a “responsabilização criminal dos autores morais e materiais, tendo findado 385 processos, sendo 356 por despacho de acusação e 29 arquivados por insuficiência de provas e 357 encontram-se em instrução”, refere-se no relatório anual do Ministério Público.
Moçambique viveu desde as eleições de outubro de 2024 um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeitou os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, candidato presidencial apoiado pela Frelimo, partido no poder.
Cerca de 400 pessoas morreram nos confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após dois encontros entre Mondlane e Chapo, com vista à pacificação do país.