Por LUSA/RTP
Os profissionais de saúde moçambicanos anunciaram hoje uma nova greve a partir de quinta-feira, ameaçando apenas cumprir oito horas de serviço e a não trabalhar aos fins de semana, em reivindicação a horas extras.
“Nós estamos a ter diálogo até agora, só não há honestidade, então no meio de falta de concretização da honestidade nós partimos à greve”, disse o presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), Anselmo Muchave, em conferência de imprensa, em Maputo.
Em causa estão as exigências da APSUSM, que há três anos pede que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, face à necessidade, em alguns casos, de serem adquiridos pelos pacientes, bem como a aquisição de camas hospitalares.
Outras reivindicações passam pela resolução da “falta de alimentação”, o equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartáveis, cuja ausência vai “obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso”, pagamento de horas extraordinárias, além de um melhor enquadramento no âmbito da Tabela Salarial Única (TSU).
A nova greve que arranca em 17 de abril vai consistir na alteração dos horários dos profissionais de saúde que, disse Muchave, passarão a entrar das 07:00 às 15:30 locais “segundo o horário estabelecido pela lei”, com observância de 30 minutos de intervalo.
Na considerada primeira fase na nova vaga de reivindicações, a APSUSM pede também aos profissionais de saúde que não receberam materiais médicos, incluindo uniformes, para se fazerem às unidades sanitárias apenas para assinar as presenças e permanecer no interior das mesmas, sem “interferir” no seu funcionamento.
Outra medida pedida durante os 30 dias é a suspensão dos trabalhos em turno e escalas de finais de semana, que “passam para a responsabilidade do Ministério da Saúde”.
“Quando há abertura há honestidade, o antigo Governo era honesto, este não está a ser honesto não estamos a ter resposta concreta”, disse o presidente da APSUSM, que admite prorrogar greve, ao fim dos 30 dias agora anunciadas, se não se alcançar acordos em sede de negociações com o executivo.
“Não terá ninguém a trabalhar nos finais de semana, como temos esse problema de finais de semana então o Governo fica relaxado, não precisa calcular horas extras para pagar a ninguém, é só dizer que pelo menos já saímos desses problemas. Se precisar de alguém nas unidades sanitárias que pague a esses profissionais e esses vão voltar às unidades”, concluiu Anselmo Muchave.
A greve hoje anunciada tinha sido antes adiada no âmbito das negociações com o Governo, mas os profissionais tinham já alertado para “impaciência” dos associados.
O ministro da Saúde moçambicano, Ussene Isse, alertou, em 21 de março, que uma eventual greve no setor será “um desastre” e pediu diálogo aos profissionais.
“Greve na saúde é um desastre, autêntico desastre. Imagine só ficar 10 a 15 minutos sem atender um doente na sala de reanimação, um doente crítico, o que vai acontecer? Morte. Já aconteceu aqui várias vezes, familiares de colegas nossos perderam a vida. É ou não uma tragédia?”, questionou Ussene Isse, garantindo que o Governo se tem “pautado pelo diálogo” com os profissionais da classe com objetivo de resolver as suas preocupações.
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e, depois, pela APSUSM, que abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos e que exigem, sobretudo, melhorias das condições de trabalho.
O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.