Por LUSA
Académicos da Cedesa, que estuda assuntos da África Austral, em especial Angola, acreditam que uma intervenção militar deste país para reforço do exército congolês poderia ajudar à paz na República Democrática do Congo (RDCongo).
Num sumário da situação no Leste do Congo, o papel do grupo rebelde M23 e do Ruanda, o grupo de académicos e especialista da Cedesa — Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África — aponta esta entre três hipóteses de trabalho possíveis para a reconstrução da paz no leste da RDCongo.
“Qualquer solução será a do mal menor”, dizem, e a primeira seria a “separação/secessão da zona do Leste” do país, criando-se, assim, um novo estado que, “possivelmente, ficaria sob a influência do Ruanda, ou pelo menos assinaria um acordo de comércio livre com Kigali.
Uma solução que “não agradaria a Kinshasa”, sublinham os académicos, referindo-se à capital e centro de poder da RDCongo.
A segunda hipótese seria “manter o Leste do Congo como parte integrante da RDCongo, mas dando-lhe um estatuto de autonomia mais alargada e permitindo que a zona integrasse uma área de comércio livre ou integração económica com o Ruanda”, afirmam.
A terceira solução “exigiria uma intervenção militar de Angola, no sentido de treinar e reforçar o exército da RDCongo, possivelmente com envolvimento dos Estados Unidos da América”.
Esta hipótese também exigiria “reformas, no sentido da boa governação na RDCongo” e uma “qualquer espécie de acordo económico com o Ruanda”, sem o que consideram “não ser possível garantir uma paz duradoura”.
O leste da RDCongo, rico em minerais, é palco de violência há 30 anos. Mas, desde novembro de 2021, o M23, um grupo armado apoiado pelo Ruanda e pelo seu exército, apoderou-se de vastas extensões daquele território da RDCongo.
Angola tem acolhido, desde 2020, várias cimeiras para alcançar a paz na região, no quadro dos esforços regionais promovidos pelas organizações em que está inserida, como a Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e a União Africana (UA), e pretende dar um novo fôlego às rondas negociais para pôr fim às tensões entre os dois países.
O Presidente de Angola, João Lourenço, na qualidade de mediador indicado pela União Africana, tem tentado alcançar um cessar-fogo, apelando ao diálogo entre as partes envolvidas e promovendo iniciativas para estabilizar a região dos Grandes Lagos, entre as quais o Processo de Luanda.
Mas, no entender da Cedesa, esse empenho de Angola e do Presidente angolano apenas tem conseguido evitar “um confronto total e direto entre a República Democrática do Congo e o Ruanda”. E a situação, na opinião do grupo de académicos tende a agravar-se.
Neste documento, a que Lusa teve acesso, a Cedesa deixa também um alerta considerando que esta “guerra desconhecida ou ignorada” pelo ocidente “pode, a médio prazo, ter impactos muito relevantes em toda a política de transição energética e uso de novas tecnologias no globo”, e salientando que na zona onde se desenrola já está a ter “um efeito devastador”.
Além dos objetivos políticos do Ruanda, “ligados à projeção de poder do país, prestígio e combate às forças da oposição que se encontram na RDCongo, há um facto chave que aguça o interesse do Ruanda e provavelmente está ligado à sua sobrevivência enquanto país viável e sustentável, com altas taxas de crescimento”, dizem os especialistas.
E o Ruanda, concluem, “precisa do acesso aos minerais da zona de conflito do Leste do Congo para sustentar o seu crescimento económico”.