Por LUSA
São Tomé e Príncipe regista desde 2019 uma diminuição dos peixes mais consumidos pela população e caminha para uma situação de rotura, alertou hoje a Direção das Pescas do arquipélago, que apontou medidas urgentes para a conservação dos recursos marinhos.
“Nós estamos a caminhar para uma fase de falta de peixe, bem dizer, a rotura de ‘stock’ de peixe”, disse à Lusa a porta-voz do Departamento de Investigação e Estatística da Direção das Pescas de São Tomé e Príncipe, Mirian Cravid, no final do congresso internacional sobre “Justiça, Meio Ambiente e Direitos Humanos”, realizado em São Tomé pela Associação Santomense de Mulheres Juristas em parceria com a Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa.
Os dados da Direção das Pescas apontam a diminuição de várias espécies de pescados mais capturados no mar são-tomense, nomeadamente o ‘voador’, a bica, o ‘maxipombo’, o ‘fulufulo’, o ‘peixe andala’, a ‘cavala’ e o ‘bonito’.
“São as espécies que nós estamos a sentir que estão a diminuir mesmo, em termos de quantidade e também tamanho, segundo o relato dos pescadores e o que nós também comprovamos nos trabalhos que temos feito”, disse Mirian Cravid.
Segundo a representante da Direção das Pescas, os boletins estatísticos de 2019 a 2022 demonstram “que o esforço de pesca está a ser maior em relação ao recurso”, o que quer dizer que “existe mais número de pescadores, mais número de embarcações e cada vez menos quantidade de peixe”.
São Tomé e Príncipe tem uma extensão marítima 160 vezes maior que a terra (cerca de 1.001 quilometros quadrados) e segundo Mirian Cravid estima-se que existem mais de quatro mil pescadores em 58 comunidades piscatórias do arquipélago.
“Nós temos cerca de duas mil e tal embarcações que vão à pesca praticamente todos os dias. E todos os dias essas embarcações vão para a pesca, vão à procura do mesmo tipo de peixe, existem umas que vêm com peixe, outras que não vêm com peixe. Então este é um sinal, neste caso, que nós temos do esforço maior em relação à espécie”, explicou.
Os dados incluem apenas a pesca artesanal e semi-industrial, deixando de fora a pesca industrial feita por navios internacionais, incluindo os da União Europeia ao abrigo de acordo com o Governo são-tomense.
“Nós, na estatística, ainda não começámos a tratar esses dados, mas essa informação existe”, precisou Mirian Cravid.
Para reverter a situação, a responsável disse que já foram delimitadas em São Tomé duas áreas marinhas protegidas e seis na Ilha do Príncipe e estão a ser criados recifes artificiais, além de estudos científicos que estão a ser feitos para “traçar uma política melhor para essas espécies” e garantir a sua sustentabilidade.