Por LUSA
O líder da Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) na Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, anunciou hoje o cancelamento da marcha contra o regime político vigente no país que estava prevista para domingo, devido a “alto risco de confrontos”.
O também presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Simões Pereira afirmou, em conferência de imprensa, que a decisão foi tomada após uma “avaliação do risco iminente” de ocorrer uma confrontação com as forças da ordem.
Pereira, que é igualmente presidente eleito do parlamento guineense, entretanto, destituído pelo Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, observou que a avaliação concluiu que existe um “nível tal de ódio” das forças de segurança contra a PAI-Terra Ranka “que pode desembocar num confronto”.
“Nós pensamos que as forças de segurança não fazem parte do jogo político, não são nossos adversários. Mas, na verdade, as forças de segurança estão a ser utilizadas contra a PAI-Terra Ranka com um grau de ódio tal que não pode ser uma simples coincidência”, sublinhou Simões Pereira.
Perante o que considera de “extrema gravidade”, o dirigente anunciou que a sua coligação decidiu pelo cancelamento da manifestação que deveria ter lugar no domingo em Bissau e nas regiões do país para protestar contra o “abuso do poder e falta de democracia”.
Domingos Simões Pereira disse que a PAI-Terra Ranka pretende “compreender melhor” as razões do alegado ódio das forças de segurança contra a coligação e também os contornos das “detenções e espancamentos de cerca de dezena e meia de dirigentes” da oposição na última quarta-feira, segundo dados avançados pelo PAIGC.
O próprio Pereira anunciou nesse dia a detenção pela polícia de “dezenas de dirigentes” da sua coligação que se preparavam para uma passeata pelas ruas de Bissau. Horas depois, o PAIGC e a Liga Guineense dos Direitos Humanos indicaram que teriam sido alvo de espancamentos na sede da polícia em Bissau.
O líder da PAI-Terra Ranka pede o “benefício da dúvida” aos militantes da coligação, realçando que se trata de um “sinal de responsabilidade”, mas que não pode ser entendido como “medo”.
“Nenhum de nós tem medo de enfrentar esta realidade, mas enquanto ‘condutores’ de pessoas, líderes de um processo político, temos de ter a capacidade de avaliar a situação em cada momento”, defendeu Domingos Simões Pereira.
O político observa que, “mais do que ser herói”, o importante é levar as pessoas a um bom porto.
A PAI-Terra Ranka foi a vencedora das eleições legislativas de junho de 2023, com uma maioria absoluta, mas o seu Governo foi demitido pelo Presidente guineense em dezembro do mesmo ano e o parlamento dissolvido, com a alegação da existência de uma grave crise institucional no país.
Na altura, Umaro Sissoco Embaló justificou que estava em curso uma tentativa de golpe de Estado e acusou o parlamento de caucionar a intentona.