Por LUSA
Dois jovens cabo-verdianos criaram um “dicionário online” para traduzir expressões do inglês para o crioulo e dar aos residentes no estrangeiro a oportunidade de aprender e praticar a língua originária do arquipélago.
Começou a ser criada em 2019 a plataforma digital cabo-verdiana `kriolish.com´, que “funciona como um dicionário e recurso linguístico, com tradução de inglês para crioulo que tem como objetivo divulgar a língua e dar aos descendentes cabo-verdianos, principalmente os residentes nos Estados Unidos, a oportunidade de praticar”, disse à Lusa, a cofundadora do projeto, Suely Neves.
O projeto nasceu da ideia de dois jovens, Suely Neves e Edmar Gonçalves que emigraram em criança para os Estados Unidos e viram a “necessidade dos descendentes de Cabo Verde terem acesso” à língua crioula e de a praticar.
“Para nós, iniciar com o inglês era natural, começar por aí em termos de traduzir”, apontou, justificando que também a escolha da língua inglesa deve-se à existência do maior número da diáspora cabo-verdiana nos Estados Unidos.
Na plataforma digital, já se encontra disponível a tradução de mais de 2.000 palavras e expressões da tradição oral de Cabo Verde, acompanhada com áudio da pronúncia.
O site disponibiliza ainda o crioulo cabo-verdiano em duas variantes: o do barlavento e sotavento como forma de dar às pessoas a oportunidade de entender a diversidade e estar mais perto da sua língua cabo-verdiana.
Em Cabo Verde, o português é a língua oficial e é a usada em toda a documentação oficial e administrativa, porém, na comunicação oral quotidiana usa-se o crioulo cabo-verdiano.
Este crioulo é dividido em dois dialetos com algumas variantes em pronúncias e vocabulários: os das ilhas de barlavento (Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau, Sal e Boa Vista), ao norte, e os das ilhas de sotavento (Maio, Santiago, Fogo e Brava), ao sul.
“A nossa língua é rica em termos de expressão, de história em vários contextos. Há pessoas que já nos ajudaram dizendo aqui na ilha de Santiago, ou na Brava, no Fogo escrevemos isso de uma outra forma. Isso permite-nos pensar que há mesmo uma grande diversidade da língua cabo-verdiana”, realçou.
Também há possibilidade de as pessoas solicitarem as palavras que não estejam disponíveis no site e ao mesmo tempo darem uma contribuição, adicionando as expressões na língua crioula.
“Temos esses dois produtos mais disponíveis de imediato para quem tem interesse em aprender expressões de Cabo Verde. Estamos a ver bons resultados no sentido da adesão nas nossas páginas, cada dia estamos a crescer mais, tem sido positivo”, sublinhou, adiantando que futuramente vão acrescentar outras línguas.
Suely Neves contou ainda que o projeto tem dado uma “grande contribuição”, principalmente aos alunos que têm usado o site nas escolas em Cabo Verde para também aprenderem o inglês.
O site já conta com quase 400 contas de utilizadores registadas, 300 contribuições do público feitas no dicionário de expressões e cerca de 10.000 visitas de pessoas dos Estados Unidos, Portugal, Holanda, Reino Unido, Cabo Verde, outros países da África, da Ásia e Oceânia.
Cabo Verde tem cerca de 500 mil habitantes em nove das dez ilhas do arquipélago e uma diáspora três vezes maior, cerca de 1,5 milhões de pessoas, que vivem principalmente nos Estados Unidos, Portugal, França, Holanda, entre outros países.
A diáspora cabo-verdiana tem uma forte influência na cultura e na economia do país, devido às remessas enviadas para familiares e às ligações mantidas com a terra natal.