Por LUSA
A jornalista Indira Correia Baldé, da delegação da RTP-África em Bissau, denunciou ter sido impedida de cobrir uma cerimónia do Governo, por alegadas “ordens superiores” do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló.
Correia Baldé, igualmente presidente do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (Sinjotecs) da Guiné-Bissau, relatou que o caso ocorreu num hotel de Bissau onde se preparava para acompanhar uma cerimónia onde estava a ministra da Saúde.
Momentos antes do início da cerimónia, a ministra, Maria Inácia Sanha, saiu da sala, ao perceber a presença da Indira Correia Baldé, que seria informada pelo médico Plácido Cardoso, um dirigente do setor da Saúde, que a governante não podia estar na mesma sala com a jornalista.
“O Plácido pediu desculpas por me informar que ‘ordens superiores’ do Presidente da República indicavam que eu, Indira Correia Baldé, não posso estar em nenhuma atividade do Governo”, explicou a jornalista.
Antes de regressar à delegação da RTP-África, em Bissau, Correia Baldé informou os colegas presentes no hotel sobre o que se tinha passado e ainda comentou a situação da liberdade de imprensa no país.
“Isto é para demonstrar, mais uma vez, em que país estamos, para demonstrar que tipo de jornalismo as pessoas pretendem para a Guiné-Bissau, demonstrar até que ponto estão a condicionar o acesso às fontes de informação”, destacou Indira Correia Baldé.
A sindicalista aproveitou a ocasião para exortar a comunidade internacional e a sociedade guineense a acompanharem a Guiné-Bissau, onde, disse, “a situação não está nada boa”.
“Tudo isso é uma forma de silenciar a comunicação social, silenciar o jornalismo de qualidade”, frisou Correia Baldé que não se sente incomodada ao ponto de deixar de lado “o compromisso com um jornalismo de qualidade”, disse.
A jornalista diz que não tem nenhum problema pessoal com o Presidente guineense de quem, lembrou, foi colega de escola e uma pessoa conhecida “há 40 anos”.
Indira Correia Baldé afirmou que vai continuar a fazer jornalismo na Guiné-Bissau, mesmo sem poder cobrir atos oficiais das autoridades, como sempre fez “com vários Presidentes, primeiros-ministros e ministros”.
“Há muitas notícias na Guiné-Bissau. Estou proibida de cobrir atos públicos, mas continuarei a fazer notícias sobre a população”, sublinhou Baldé.
O Sinjotecs tem mantido uma relação tensa com o Presidente guineense, a quem a organização acusa de “desrespeito ao papel dos jornalistas” na sequência de vários episódios de Sissoco Embaló com profissionais de comunicação social.
Em julho, o sindicato apelou ao boicote dos jornalistas a todas as atividades de Sissoco Embaló, embora o apelo não tenha sido totalmente respeitado.
Em reação, o Presidente guineense disse que o próprio tinha boicotado os jornalistas e o seu sindicato “por ser ilegal”, em alusão à caducidade do mandato da direção de Correia Baldé.
A Lusa tentou, sem sucesso, obter uma reação da Presidência guineense e do Ministério da Saúde Pública.