Por LUSA
A ministra das Finanças de Angola disse hoje que vai aproveitar os Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial para defender a presença de mais conteúdo local nos programas de financiamento e de investimento.
“Angola não pode fazer política de cadeira vazia, como se diz na diplomacia”, disse Vera Daves de Sousa, em entrevista à Lusa à margem da sua participação nos Encontros Anuais do FMI e Banco Mundial, que decorrem esta semana em Marraquexe, Marrocos.
Questionada sobre as principais vantagens destes Encontros que reúnem, além de grande parte dos funcionários e acionistas das duas instituições, investidores, financiadores, banqueiros e dirigentes de agências de rating, a ministra respondeu que apresentar as reformas e dizer o que quer são duas valências importantes destas reuniões.
“Vou falar dos instrumentos financeiros, que devem ter uma maior dimensão e ser mais expedito o acesso, para ter acesso aos fundos não ser uma ‘via sacra’, defender um maior conteúdo local sempre que há projetos com as instituições multilaterais, porque há grande espaço para melhoria, o projeto até existe, mas grande parte fica a gravitar em torno de empresas que nem estão em Angola, por isso o dinheiro não circula em Angola”, vincou a governante.
Além disso, os Encontros permitem “realizar reuniões bilaterais e partilhar informação sobre como está Angola, reunir com a alta gestão do FMI e do Banco Mundial e com investidores”, para “manter a chama acesa” e dar a possibilidade de dar explicações para que, quando o país recorrer ao mercado, “continuarem a acreditar em Angola”.
Para Vera Daves de Sousa, a presença em Marraquexe permite o encontro com estes agentes “e perceber que tipo de soluções financeiras podem ser construídas em conjunto”, nomeadamente com a Agência Multilateral de Garantia de Investimento (MIGA, na sigla em inglês), os bancos que financiam Angola e com as agências de rating, “assegurando que estão por dentro do que está a acontecer, e dar acesso à informação”, dar a “visão do futuro” e o que o país quer ter financiado.
Questionada sobre um relatório recente da Comissão Económica das Nações Unidas sobre a influência das agências de rating na perceção de risco do continente, no qual criticava duramente as agências de notação financeira por avaliarem de forma negativa a real qualidade do crédito soberano, Vera Daves de Sousa disse que há trabalho a fazer dos dois lados.
“Há trabalho a fazer de parte a parte, há agências de rating que já estão a mergulhar mais profundamente na realidade do continente africano do que outras”, afirmou, acrescentando que “é muito importante ter pessoas que conhecem a realidade local quando apresentam o caso de Angola em Londres ou no Dubai”, onde estão sedeados os analistas da Moody’s e da Standard & Poor’s.
Do lado dos países, concluiu, também há trabalho a fazer: “temos de ser ágeis e diligentes na partilha de informação, não pode ser um suplício aceder a informação, mesmo que em português, temos de tornar mais fácil o acesso à informação para quem quer saber de nós”.