Por LUSA
O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) afirmou hoje que o maior partido da oposição dará “assistência jurídica” ao proprietário do barco que naufragou este mês em Nampula, provocando 98 mortos, e criticou o Governo.
“O Estado deve começar a pagar pela sua irresponsabilidade”, escreveu Ossufo Momade, após visitar no fim de semana o posto administrativo de Lunga, distrito de Mossuril, na província de Nampula, de onde o barco de pesca partiu em 07 de abril, naufragando a cerca de 100 metros da costa da ilha de Moçambique, quando transportava 130 pessoas a bordo, em fuga por recearem um surto local de cólera.
“Vivemos de perto o sofrimento vivido pelo nosso povo devido ao abandono total, tendo a ilha de Moçambique como principal refúgio para suas necessidades básicas de saúde e comerciais, para além da inexistência de vias de acesso de qualidade, energia elétrica, posto de saúde, mercados e um centro de desenvolvimento agrário”, descreveu o líder da Renamo.
O acidente matou 98 pessoas, incluindo 55 crianças, 34 mulheres e nove homens, havendo registo de 16 sobreviventes. De acordo com as autoridades marítimas moçambicanas, a embarcação de pesca não estava autorizada a transportar passageiros nem tinha condições para o efeito.
O dono e um responsável pela embarcação estão detidos, disse na altura à Lusa a porta-voz da polícia na província de Nampula, Rosa Chaúque.
“Foi com tristeza que acompanhamos a prisão do proprietário da embarcação, o senhor Hassane, pelo facto de ter autorizado a entrada da população na sua embarcação de forma gratuita como forma de apoiar o povo, na maioria crianças, sem, no entanto, verificar procedimentos de segurança marítima”, continuou o líder da Renamo.
Momade acrescentou que a detenção “desgasta a população local e que a culpa deste ato não foi do marinheiro e nem do seu proprietário, mas da própria população, que assim exigiu” ao dono da embarcação.
“Na sequência do pedido de assistência jurídica do mesmo daremos a devida assistência jurídica para a sua liberdade e a consequente responsabilização do Estado”, garantiu o político.
O Governo moçambicano anunciou em 18 de abril a construção de uma estrada e uma ponte na zona do naufrágio, como forma de evitar o transporte de passageiros em barcos sem condições.
O Presidente Filipe Nyusi “orientou o Governo para, de imediato, trabalhar no sentido de reabilitar a estrada de 36 quilómetros que liga Naguema a Lunga”, disse o ministro da Indústria e Comércio.
Silvino Moreno falava numa reunião plenária da Assembleia da República dedicada a perguntas dos deputados ao executivo.
“Há um trabalho que já foi iniciado e vai ser construída também uma ponte com 210 metros sobre o rio Monapo, para que a comunicação entre Naguema e Lunga possa ser feita com facilidade e para desencorajar o uso de pequenos barcos”, declarou Moreno.
O Conselho de Ministros decretou luto nacional de três dias na sequência do acidente, com vários países parceiros de Moçambique a manifestarem solidariedade face à tragédia.