Por LUSA
O representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique alertou hoje para o efeito negativo dos raptos na economia do país, assinalando que a criminalidade pode retrair o investimento.
“Há impacto, sim”, da onda de raptos que assola algumas cidades moçambicanas, porque “a insegurança pública tem um impacto sobre a vontade de investir”, afirmou Alexis Meyer-Cirkel, que falava aos jornalistas, em Maputo, à margem de um seminário com os deputados da Comissão do Plano e Orçamento (CPO) da Assembleia da República de Moçambique.
“Os investidores que se sentem ameaçados acabam não exercendo aquele investimento que talvez poderiam fazer”, declarou o representante do FMI.
Alexis Mayer-Cirkel, de nacionalidade brasileira, avançou que o FMI ainda não realizou um estudo sobre o impacto dos raptos na economia moçambicana, mas aguarda “com interesse” os resultados de uma avaliação que a Confederação das Associações Económicas (CTA) do país disse que irá fazer sobre o assunto.
As autoridades de Moçambique detiveram duas pessoas suspeitas de envolvimento em dois raptos ocorridos na capital, Maputo, anunciou na segunda-feira o Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic).
“Eles foram detidos indiciados pela prática do crime de rapto, um foi detido no dia 17 e o outro no dia 22 deste mês”, disse o porta-voz do Sernic, Hilário Lole, durante uma conferência de imprensa.
A detenção dos dois homens aconteceu a partir de informações fornecidas por um outro suspeito de rapto, também detido, apresentado na última semana pelo porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Leonel Muchina, num trabalho coordenado com o Sernic.
O Sernic avançou que decorrem trabalhos para deter os outros raptores, referindo que alguns já foram identificados, faltando ainda a sua localização e detenção.
A onda de raptos em Moçambique começou em 2011, afetando, sobretudo, empresários e seus familiares, sendo frequentemente confirmada a participação de polícias e magistrados, entre outros, nestas redes, com ramificações que se estendem até a vizinha África do Sul.
Após um período de relativa estabilidade, os casos voltaram a ser registados nos últimos anos, principalmente nas capitais provinciais, com destaque para Maputo.
Em 11 de fevereiro, um outro empresário foi raptado na cidade de Maputo a poucos metros da Casa Militar, quartel responsável pela guarda do Presidente, o segundo concretizado este ano.
Em 16 de janeiro, um gestor de uma loja de venda de mobília foi ferido no abdómen durante uma tentativa de rapto frustrada por populares que atiraram pedras contra os autores do crime, disse então à Lusa o porta-voz da polícia em Maputo.
Desde janeiro de 2023, as autoridades moçambicanas detiveram 38 pessoas envolvidas na onda de raptos no país, que registou um total de 13 casos no mesmo período, segundo dados oficiais.
As autoridades moçambicanas admitiram, por várias vezes, o envolvimento de membros da polícia e de magistrados nestes crimes, cujas ramificações se estendem até a vizinha África Sul, país com o qual Moçambique tem fortes relações.