Por LUSA
A organização não-governamental Save the Children avisou que dezenas de milhares de crianças correm risco de vida devido aos surtos de cólera em Moçambique, Zimbabué e Maláui e que tudo pode piorar na época de ciclones.
Os ciclones podem trazer inundações e, por isso, aumenta também o “risco de se contrair doenças mortais”, explicou em comunicado.
A Save the Children analisou dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos governos nacionais, que mostraram que os casos de cólera mais do que quadruplicaram nestes três países entre 2022 e 2023.
O número de casos aumentou de cerca de 26.250 para 95.300, com mais de 1.600 mortes nas três nações africanas, o que faz deste um dos piores surtos de cólera das últimas décadas, de acordo com a organização.
“2024 ameaça ser mais um ano devastador com a cólera na região, uma vez que o clima mais quente e as chuvas e tempestades invulgarmente fortes na África Austral alimentaram a propagação da doença. Até ao momento, Moçambique, Zimbabué e Maláui registaram mais de 13.000 casos da doença” este ano, declarou.
No Zimbabué, três em cada 10 casos de cólera são em crianças com menos de 15 anos, segundo as Nações Unidas (ONU).
No Maláui, onde se registou mais de 160 casos este ano, cerca de quatro em cada 10 casos são em jovens e crianças com menos de 19 anos, de acordo com o ministério da Saúde do país.
Estas três nações africanas têm sido as mais afetadas por ciclones nos últimos anos, devido às alterações climáticas, e estão atualmente a lutar “contra os seus maiores surtos de cólera à medida que se aproxima o pico de outro ciclone e da estação das chuvas”, afirmou a Save the Children.
“Moçambique está a ser atingido em todas as direções à medida que o país se debate com conflitos, insegurança alimentar e um surto de cólera numa escala que não se via há décadas, e tudo isto enquanto se prepara para mais uma época de ciclones”, afirmou o diretor nacional da Save the Children em Moçambique, Brechtje van Lith, citado no comunicado.
“Uma criança subnutrida corre um risco 11 vezes maior de morrer de cólera do que uma criança saudável”, acrescentou.
A organização está a intensificar os esforços na região para ajudar a mitigar o risco de doenças, como a cólera e a malária.
No Maláui colocaram cloro para desinfetar a água suja, mas também estão a apoiar as famílias com dinheiro para alimentos.
“Em Moçambique, estamos a trabalhar com os governos locais para fornecer sabão, purificadores de água e outros artigos para facilitar o acesso a água potável”, referiu.
No Zimbabué, estão a realizar sessões de sensibilização sobre práticas de saneamento e higiene nas escolas e nas comunidades, e a fornecer pastilhas de tratamento de água aos agregados familiares.
“A Save the Children no Zimbabué está também a aplicar um programa que visa melhorar o acesso a água limpa e segura para mais de 60.000 pessoas através da instalação de esquemas de água alimentados por energia solar”, declarou.
A cólera, uma doença altamente contagiosa, propaga-se rapidamente através da água contaminada. Pode também propagar-se rapidamente em zonas com tratamento inadequado dos esgotos, zonas inundadas e zonas sem água potável, problemas que podem ser agravados pelas inundações provocadas pelos ciclones tropicais, explicou.